terça-feira, 22 de março de 2016

Is it too late now to say sorry? (ou, sobre aprender a perder)

Quem diria que algum dia eu começaria um texto intitulado com a letra de uma música do Justin Bieber? Eu, há uns tempos, nunca diria. Vejam, porém, como isso é possível.
Eu já falei em algum outro texto sobre minhas fases musicais, não estou na fase belieber, fiquem calmos, (a não ser quando toca na balada, ou quando meu irmão coloca pra tocar em casa, porque.. né? quem é que resiste a esse refrão? - E outra: eu diria até que estou numa fase remember-adolescência-punk rock, por influências externas, mas isso é papo pra outro texto. topic: OFF.) mas eu diria que isso serve de exemplo pra analisar a sociedade atual e o quanto as pessoas pré-julgam e "odeiam" sem saber do potencial das coisas (e pessoas). Não queria falar de política, mas nesses tempos sombrios (como diria Dumbledore) é inevitável. Meu posicionamento aqui, na verdade, vai soar mais como uma reflexão sobre o ensino e sobre a vida (e o universo e tudo o mais, como sempre).
Nos últimos meses aconteceram muitas coisas na minha vida, inclusive perdas. Perdas de gente querida, perdas de certezas e seguranças, muitas perdas. Cada uma delas veio com uma dor, mas também com um ensinamento (nem que fosse o de "toma na cara, levanta e continua andando). Eu já escrevi alguma vez que eu detesto aquele papo de auto-ajuda sobre "só dar valor quando se perde", mas sabe que isso começa a fazer um pouco de sentido? Primeira vez que essa frase fez "plim" na minha cabeça foi num dia que me olhei no espelho: eu usava um short e um top, dentro de casa. Parei e pensei "preciso fazer academia", depois eu pensei "não necessariamente para emagrecer, tô bem assim, afinal já estive com 80 kg, né?" E nisso me veio à mente tudo que eu passei até o momento, agora com meus 60 kg e sem Cushing. Nesse caso, passei por um bocado de coisas ruins e inseguranças e bad-vibes pra poder me sentir bem com meu corpo. Esse exemplo fez eu repensar meus pensamentos, consequentemente, meu olhar sobre o que se passa em minha volta. Minha primeira conclusão foi: a gente não sabe perder. "Perder? Como assim?" É, perder, em todos os âmbitos da vida...
Somos preparados desde o nascimento, durante nove meses, para "Ganhar a vida" e, quem está esperando do lado de fora, também é preparado. Quando alguém morre, porém, ninguém está preparado, não importa o tempo que se passe ao lado da pessoa. Viram? Essa é a perda mais clássica que todos sabem que vão passar e nós não aprendemos a lidar com ela. 
Um adolescente sai do Ensino Médio, estudou bastante, fez vestibular, não passou. Ele se preparou por muito tempo para "ganhar" aquela vaga, mas ele perdeu (porque ficou nervoso, porque não deu tempo, por qualquer motivo). Ninguém sabe o que dizer nesta hora, ninguém consegue tirar o sentimento de fracasso daquela pessoa. 
Traduzindo: nós não somos preparados para perder. 
Essa conclusão reflete no atual quadro político que o nosso país passa, muita gente não sabe "perder", toda e qualquer discussão acaba se transformando numa guerra e não há consenso. Há muito tempo eu não me abro publicamente sobre certos posicionamentos e opiniões minhas por pura preguiça e, também, por prezar pela minha sanidade e integridade física. Já passei por tanta coisa que não vou dar "sorte pro azar". Porém, "ficar quieta" me deixa tão mal quanto "vomitar" tudo que eu gostaria e ser "massacrada" pelos "opositores". 
Enfim... toda essa grande "introdução" sobre esse papo de "não saber perder" veio na minha cabeça quando fui na minha última consulta de rotina com a endocrinologista. Ela pediu exames, como de costume, os de sangue todos OK, mas o resultado da ressonância magnética veio com um "plus a mais" que nunca esteve nas ressonâncias anteriores: formação neoplásica recidiva de macroadenoma de hipófise, com 2cm. 
Há alguns anos, desde a última cirurgia em 2012, eu tinha colocado na minha cabeça que a minha novela em hospitais havia acabado. Aí esse resultado trouxe várias lembranças e isso me botou pra baixo. Aquele sentimento de "estou curada" deu lugar ao "PERDI", de novo. Dessa vez, porém, eu sei o que está acontecendo comigo, confio nos médicos, no diagnóstico e em mim mesma. Infelizmente, a cirurgia transesfenoidal (como as anteriores) não pode ser feita, pois o local que o tumor se encontra não é adequado para isso, mas existe outra possibilidade: a radiocirurgia. Inclusive, eu já falei sobre essa possibilidade (em 2011, vejam só), falei de um jeito meio assustador, mas quem sabe agora eu mude meu olhar (assim como eu mudei em relação ao Bieber, né? VAI QUE) - o link pro post de quando eu já falei sobre o procedimento é: HELLRAISER. Resumindo: o tumor, que antigamente era "invisível", agora cresceu. Isso aconteceu porque esse tumor produz o hormônio ACTH (que já falei algumas vezes, é o responsável por me deixar com esse bronzeado invejável - sqn), que manda(va) "informações" para as adrenais produzirem o cortisol. Como eu tinha o Cushing e meus níveis de cortisol estavam descontrolados, fiz a última cirurgia para a retirada das adrenais e hoje tomo o cortisol em comprimidos (com hormônios sintéticos, obviamente). PORÉM, o tumor continua mandando "informação" para as adrenais, mas elas não estão mais lá, portanto o nível de ACTH sobe exorbitantemente (porque ele era regulado em contraste com a minha produção de cortisol, que agora é inexistente) e esse nível exorbitante de ACTH faz com que o tumor cresça, isso se chama Síndrome de Nelson (e, sim, dá pra perceber que tenho um probleminha com as síndromes raras: Cushing, Addison, Nelson...)
Eu já sabia que isso aconteceria em algum momento, mas o tempo passa tão rápido que eu nem vi que já se passaram quatro anos da última cirurgia e esse tempo se perdeu e eu nem vi... O que eu vi, agora, depois de ter parado pra colocar a cabeça no lugar e "digerir" esse novo diagnóstico, é que eu sou outra pessoa completamente diferente - desde 2009, quando descobri o Cushing, ou 2012 quando fui curada do Cushing e, ser uma nova pessoa, coloca-me em outro posicionamento em relação às doenças e minha vida.
Já que não dá pra gente fugir do destino e das reviravoltas que a vida dá, com essas tragédias dignas da Antiguidade Clássica, nada melhor que escrever, como forma de catarse e isso continuar me dando forças pra lidar com as perdas e enfrentando novas batalhas...
Ah, e sobre aquele papo de política? Ou a gente pede desculpas, ou a gente lida com as perdas, né?