terça-feira, 30 de setembro de 2014

um quarto de século e as hipóteses.

– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é? 
(LOBATO, Monteiro. Memórias de Emília, 1936)

Começo esse meu post de hoje assim, pensando nas hipóteses. 

Hoje, dia 30 de setembro de 2014, sou uma mulher de 25 anos de idade, tenho um quarto de século vivido. Pensando assim, às vezes me sinto uma velha: já faz 6 anos que tirei CNH (e ainda não pego na direção por medo de seiláoque), espero pra pegar o "próximo" ônibus sentada, recebo ligação da Renner e já acho que é conta atrasada, tenho amigos há mais de 10 anos, a maioria dos meus alunos têm em média 15 anos (socorro!). Por outro lado, me sinto tão próxima dos meus alunos que às vezes acho que não posso ter vivido "tanto", gosto de ver desenhos animados, uso camisetas com estampas da disney ou de super heróis, ainda uso all star, a maioria das roupas no guarda-roupa AINDA é de cor preta (viu, não era uma fase, mãe!) , ainda tenho dúvidas e crises existenciais de quando tinha 15 anos (mas com um pouquinho mais de reflexão teórica, o que não sei se é melhor ou pior), ainda tenho amigos que zoam nos comentários de postagens do facebook (do tipo "a vida me fez rockeira", ou "a Rafa já foi uma gordinha batuta"), ou que postam fotos avacalhadas no dia do meu aniversário, ou que me chamam pra "roubadas"... Por isso, essa citação das "Memórias de Emília" representa bastante do que eu penso da vida. Num piscar de olhos as coisas passam, num piscar de olhos já se passaram 25 anos, num piscar de olhos a gente cresce - ou diminui, num piscar de olhos a vida se vai... Sim, a vida se vai, e a gente tem que ter vivido tudo o que queria - ou o que precisava - pra ela ter valido a pena.
No dia do meu aniversário um tio meu faleceu, passei o dia ao lado da minha família, mas não em clima de festa. Isso me fez refletir sobre muitas coisas que eu acredito, penso, imagino, faço... As pessoas são preparadas para o nascimento, durante 9 meses - tanto os que estão para nascer, quanto os que vão cuidar (ou não) de quem nasce. E para a morte? Nós não nos preparamos devidamente? O que seria nos preparar para a morte? Saber viver a vida? Saber lidar com perdas? São tantas as perguntas que as possíveis respostas são infinitas. Infinitas hipóteses. 
Depois de tudo que passei (com o cushing e etc), comecei a pensar mais no que pode ter "depois" (ou não). As pessoas que nos deixam, que morrem por qualquer motivo que seja, tiveram seu tempo, sua missão, ou seja lá como quiserem chamar. Quem fica sempre vai sentir um vazio enorme, mas quem vai cumpriu o seu tempo. Nunca li muito sobre espiritismo, (sou batizada em igreja católica, fiz 1ª comunhão, nunca mais fui em uma missa) mas acredito que temos um tempo a cumprir e, sim, infelizmente algumas pessoas têm pouco tempo. Infelizmente apenas para quem fica no mundo terreno. Não sei no que eu acredito depois que "saímos daqui", mas me conforta pensar que existe um depois. Depois que morremos, viramos hipótese. Hipóteses infinitas na mente de quem fica. Hipóteses de coisas boas (e ruins) que não aconteceram, hipóteses de um encontro "no além", hipótese de que viraremos energia positiva, hipóteses... Quem me conhece sabe que eu não sou uma pessoa religiosa ou coisa do tipo, mas acredito sim num universo de energias e que estamos cercadas por elas. Por isso, nesse meu um quarto de século eu só posso desejar que as hipóteses da vida sejam todas energias positivas.
25 primaveras vividas com quem me ama, com quem eu amo. Sou grata a todos que já passaram pela minha vida, que ainda estão comigo e que ainda vão aparecer, que ainda são hipóteses ou que já foram. Principalmente, grata aos amigos que terei para sempre, sejam amigos de sangue, amigos de escolha, amigos que amarei nesta e em qualquer das estações. 

Se numa vida temos várias piscadas, desejo que todas essas piscadas sejam bem aproveitadas. Por todos nós. Viva a vida.

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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Run to the hills, run for your lives!

Braço de criança arrancado por um tigre. Assalto à mão armada. Acidente de carro, com morte. Depressão e suicídio. Guerra por territórios. Guerra por religião. Essas foram algumas notícias que recebi nos últimos dias. Quem é o culpado por isso tudo? O ser humano.
Não, eu não tenho vergonha de ser uma "pessoa", mas fico bastante triste por me sentir inútil em tantos momentos, em saber que não há o que fazer, simplesmente certas coisas acontecem. Há uns 4 meses, fui assaltada, à mão armada, saí viva, graças a Deus, a um anjo da guarda, ao acaso, a qualquer coisa maior que eu. Esta semana, meu irmão levou um soco pois o assaltante não conseguiu pegar nada dele e tinha muita gente na rua. Percebam:  MUI-TA GEN-TE NA RUA! Exato. Não há o que impeça alguma ação dessas. Ninguém faz nada, pois têm medo justamente de "sobrar pra eles". O que há para fazer? Em qualquer momento que me pego pensando em como a vida é curta e pode nos ser tirada de uma hora pra outra, eu choro, sim. O que fazer para confortar meu irmão e infinitas outras pessoas? Não sei.
Não sei, porque sei que a vida é incerta. Já passei por problemas de saúde que deixaram isso bem claro, mas agora, a preocupação é outra e envolve muitas pessoas, no mundo inteiro.
Lembrei de uma frase que define exatamente a situação: "O homem é o lobo do homem", que foi falada originalmente por Plauto (na Antiguidade Clássica), e posteriormente por Hobbes (na Idade Moderna). E não é que continua fazendo sentido? Não é à toa que clássico é clássico. Nesse caso, infelizmente. Sobre essa frase, o que se diz é que os homens "num estado natural", o que prevalecia era a lei dos mais fortes, ou seja, uma briga constante por sobrevivência. Posteriormente, o que se disse é que deveria haver um Estado que regulasse essa suposta "briga constante". Fica a reflexão: regula? Essa briga constante acabou?
O homem cria máquinas que trazem facilidades e ao mesmo tempo perigo pra si mesmo, cria produtos e novas necessidades que despertam no outro uma vontade de consumo e desencadeia uma briga para conseguir este produto, ou território, ou "a mulher do próximo". Pode parecer ridículo colocar esses  exemplos no mesmo patamar, mas "Helena, de Troia" não foi o motivo de uma guerra? Pois é, a História se repete ao longo dos anos, nós damos continuidade sem refletir sobre isso. E aquela coisa de que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar é mentira, já foi comprovado cientificamente (não me pergunte de onde eu sei, porque eu li em algum lugar) , então, a metáfora segue o mesmo princípio. Meu irmão foi assaltado duas vezes, eu não quero que aconteça a terceira. Eu fui assaltada duas vezes (sim, a primeira vez quando eu estava na 6ª série do ensino fundamental, também na rua da minha casa!) e não quero que aconteça a terceira. Tenho algum controle sobre isso? Não. Vou parar de viver e me entocar em casa? Não. Até porque se isso acontecer, posso fazer mal a mim mesma e esse é o (novo ?) mal do século. Então o que fazer? Sair correndo para as colinas pra se salvar?
Não, eu não sei a solução pra isso, a vida não é uma redação do ENEM que temos que sugerir solução, mas é também uma questão de "manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo" e seguir em frente.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Sobre não ter mais cushing e ter insuficiência adrenal

O primeiro objetivo deste blog era registrar minha rotina, quando eu estava no hospital em São Paulo, há uns 4 anos. Depois, fui me empolgando, já que gosto de escrever, e fui escrevendo sobre várias coisas. Quando me livrei do cushing, tinha dito pra mim mesma que não falaria mais sobre isso, porém, toda semana recebo e-mails e mensagens de pessoas que passam ou passaram pela mesma situação que eu, ou que têm a doença, ou que gostariam de saber mais sobre as cirurgias e os sintomas.
Não sou médica, nem psicóloga, mas gosto de ajudar as pessoas e quando eu tinha recebido o diagnóstico a primeira coisa que fiz foi ir atrás de informações e também queria saber de outras pessoas com a doença. Infelizmente os primeiros blogs que li, sobre o assunto, eram de pessoas deprimidas que ficavam em casa se lamentando e chorando e brigando consigo mesmo. A parte de brigar consigo mesmo (e com os outros) fiz muito (e ainda faço), mas acho que não tem nada a ver com o cushing. 
Anyway, o motivo de eu estar escrevendo este post agora é justamente para esclarecer algumas decisões que tomei e também alguns procedimentos médicos que fiz. Sobre o cushing, o básico da história - quando descobri - já escrevi neste link. Como na ressonância magnética não apareceu imagem do tumor hiposifário, fiz cateterismo e expliquei neste link. Assim que saiu o resultado do cateterismo, fiz duas cirurgias transesfenoidais, uma em junho de 2010 e outra em novembro de 2011, que expliquei neste link e neste link. Depois disso, não houve resultado e o cortisol continuava aumentando, minha endocrinologista não quis retirar minha hipófise por completo, pois a glândula controla muitos hormônios e eu teria que fazer reposição de todos eles e correria outros riscos. A primeira opção para não comprometer a hipófise completamente seria a radioterapia, que eu teria que fazer um procedimento bastante assustador e acordada e eu já estava ficando traumatizada com essas coisas, expliquei neste link. Portanto, decidimos que eu faria a adrenalectomia bilateral, que expliquei neste link.  Demorou um pouco pra fazer resultado, como expliquei neste link, mas depois de um ano, comecei a emagrecer, fazer reposição hormonal com 5 mg de prednisona  e 0,2 mg de fludrocortisona, minha hipófise deixou minha tireóide um pouco louca e agora tenho que tomar 50 mg de levotiroxina também, mas nada muito extraordinário que eu já não estivesse acostumada. 
Mês passado fez dois anos da minha última cirurgia, de 82 kg passei a 54 kg, sem nenhum esforço (tirando as milhões de cirurgias, pós-operatório, essas coisas todas). Como retirei as duas adrenais que produziam o cortisol, agora tenho insuficiência adrenal primária e ando com uma pulseirinha avisando que, em caso de emergência, eu preciso fazer reposição. 
Hoje em dia a única coisa que tenho de sintoma da insuficiência adrenal é estar mais morena, e acho que devo ter falado sobre isso em algum post também. O tumor hipofisário é secretor de ACTH, que mandava informação para as adrenais (que agora não existem mais), portanto o nível do hormônio ACTH continua aumentando infinitamente e isso provoca melanodermia, que é o escurecimento da pele. Ou seja, o que tenho que lidar é com pessoas perguntando do meu bronzeado (cof cof) em pleno inverno. Agora sou magra e bronzeada, ó a ironia do destino.
Para os que me perguntam se eu recomendo tal e tal cirurgia, eu digo: cada organismo responde de uma maneira diferente, eu, por exemplo, fiz exames de imagem em que não havia imagem, portanto o cateterismo apontou o tumor, não deu certo do mesmo jeito. Fazer o que? O lance é confiar no médico/médica. Demorei bastante para encontrar uma endocrinologista em que eu confiei, e olha que passei por, pelo menos, 15 médicos diferentes até descobrir o cushing. Não sou médica, não fiz nenhum curso na área da saúde, mas se me perguntarem, já sei até diagnosticar cushing de tanto artigos que li (não só por recomendação do Dr. Google, mas por recomendação da minha médica também), e de tantas aulas presenciais que tive no Hospital das Clínicas (que é hospital escola e eu era a cobaia). 

Não me arrependo de ter feito todos esses procedimentos, aprendi bastante coisa em todos esses anos, principalmente a viver a vida, e não a viver a doença. Das pessoas que conheci com o cushing, duas me fizeram muito bem, porque eram/são muito felizes e me fizeram rir muito junto com elas, Jaque e Luci. Elas sorriam o tempo inteiro e isso me fez ver que o importante é procurar pessoas felizes para se relacionar e tirar dúvidas, hoje nós três não temos mais cushing, somos lindas, felizes e saudáveis (na maioria do tempo, claro). 
Então, o que eu recomendo? Encontre um médico em quem confiar, viva a vida e não a doença e boa sorte! 

domingo, 13 de julho de 2014

Topo! Por que não?

"Topa? Topo!" 

E esse é o diálogo mais ouvido nos últimos dias, por mim. 
Esse diálogo resume um pouco de uma vida corrida de alguém que agora "se permite". Se permitir, pra mim, significa arriscar, não ter medo de agir, não ter medo de dizer não, ou de dizer sim. 
Insegurança era um sentimento muito presente em mim, quando eu ainda tinha cushing e estava na graduação... Não sei se isso teve alguma relação com minha mudança de estado de espírito, mas sinto-me mais segura de mim, mais segura pra dizer sim às mudanças, sim aos desapegos, sim às festas, sim às alegrias, sim aos desafios; e pra dizer não ao trabalho excessivo, não ao estresse...
Às vezes a gente acha que a vida não pode mudar muito, mas qualquer decisão tomada muda o nosso ser, a nossa rotina, a nossa vida.
Nesse último final de semana fui viajar, fui convidada num dia, no outro partiríamos. Não pensei muito, só "topei". Sempre fui uma pessoa super responsável, que pensava mil vezes antes de fazer alguma coisa. Por esse motivo, nunca fazia muita coisa. Já me arrependi de não ter feito certas coisas, nunca me arrependi de algo que fiz. Tudo que foi feito, que "aconteceu", serviu de aprendizagem sejaláparaque. 
As decisões tomadas de súbito às vezes fazem bem, fazem a gente apreciar a paisagem, fazem a gente viver. 
Hoje posso dizer que sou uma pessoa que aceita desafios e aproveita tudo que pode.
Há alguns dias li uns textos falando sobre "mulheres independentes" (e mais um monte de coisas) e sobre como as pessoas supostamente não sabem lidar com isso. Já falei um pouco sobre "independência" uma vez, aqui, hoje acredito que minha noção mudou. Aprendi a não depender de sentimentos que me derrubam, a não depender do que não tenho, a não depender de resultados "medíocres", mas ainda dependo de mim, das minhas decisões, da minha família, dos meus amigos e das oportunidades da vida. Por que estou falando isso? Porque pra alguém poder dizer "Topo!" sem ter medo, tem que saber do que sua vida depende e o que não se quer depender. 
Eu dependo de amizades, de paisagens lindas, de um céu azul, de um arco-íris, de felicidade... Pra isso, eu digo: Topo!


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sobre gostar de Madonna, ou, a aluna que se tornou, também, professora.

Hoje, enquanto voltava para casa de ônibus, do trabalho, escutava música no celular. Ultimamente esse momento é o único em que posso "pensar na vida", porque é o único momento em que não tenho como fazer alguma coisa relativa às aulas, então eu fico viajando nos pensamentos. Por mais incrível que pareça, apesar de eu assumir que andando de ônibus nós perdemos metade do dia sentados circulando pela cidade, é um momento produtivo. Não sei se já comentei isso, mas a ideia para o prólogo da minha dissertação do Mestrado foi toda elaborada num trajeto de ônibus. 
Enfim, enquanto eu escutava a rádio Itapema FM (porque é a única coisa que consigo escutar, já que, depois do assalto, estou com um celular nokia que parece um controle remoto e não dá pra colocar músicas de minha escolha) começou a tocar "Secret", da Madonna, e eu lembrei de quando eu tinhas uns 5 ou 6 anos e estava no Jardim de Infância ou Pré-escola, nessa época eu estudava no colégio "Ursinhos Carinhosos" (que agora nem existe mais e deu lugar a um condomínio residencial). Então, nessa época, lembro que eu adorava escutar e dançar sozinha, no quarto da minha mãe, o cd "Bed Time Stories", da Madonna. (um nome muito adequado para uma criança de 5 ou 6 anos, diga-se de passagem). Num desses surtos de dançarina, eu decidi que faria uma apresentação para os colegas da escola, mas queria que todos eles participassem, tinha toda a imagem da apresentação na cabeça (lembro até hoje dessa "imagem", coisa mais ridícula da vida), contei para as professoras, ou minha mãe contou, não lembro. Num belo dia, tudo estava esquematizado para a apresentação, mas... eu não dancei, óbvio, morri de vergonha e nem fiz nada. Por que eu estou falando tudo isso? Sei lá, acho que eu estava com vontade de compartilhar um mico de quando eu era criança. Mentira, não é só por isso. É que conforme eu escutava a música no ônibus, eu ia lembrando dessa situação e me perguntando "que outra pessoa deixaria e incentivaria uma criança a dançar e ser criativa no seu próprio ambiente de trabalho?" Só uma professora, mesmo. Ainda bem que eu não virei dançarina, porque imagina que desastre treinar no quarto e depois morrer de vergonha para apresentar. (deixo essa veia de dançarina pra minha prima que faz isso muito bem) 
Então, pensando em tudo isso, lembrei da orientação de TCC que dei ontem, para uma aluna da pedagogia, e pensei em como a educação infantil é uma coisa significativa na nossa vida e a gente nem se dá conta... Não sei como funciona o inconsciente, mas vai saber se isso também não influenciou minha escolha de carreira. Lembro como se fosse hoje que a minha professora da época não me podou, não impediu de eu me expressar e nem me repreendeu depois que eu disse que não ia mais dançar, ou seja, de uma forma ou de outra eu teria apoio dela. 
Claro que, com todas essas reflexões, pensei também na minha atuação como professora. É muito recente a minha relação com os alunos, afinal, sou professora há pouco tempo, mas acredito que eu levo um pouco de todas as professoras que passaram por mim (seja para concordar e seguir exemplos, ou para ser BEM diferente). Hoje eu vejo como a rotina de um professor é cansativa e consigo entender o porquê "daquele" professor não ter respondido e-mail no dia seguinte, ou "daquela" professora não ter corrigido as provas depois de uma semana, ou "daquele" professor que esqueceu de enviar o material para aula seguinte, ou "daquela" professora que não entregou o plano de ensino ainda... entre várias outras situações que ocorrem frequentemente e nós, como alunos, reclamamos e fazemos pouco caso. Não estou defendendo minha profissão, apenas querendo refletir sobre uma situação. Essa situação pode acontecer em diferentes casos, não só com professores, como por exemplo quando os nossos pais dizem "quando você for mãe você vai entender" (espero que isso demore um pouco para acontecer, mas imagino que vou lembrar dessa frase). A questão é: a gente deveria se colocar no lugar dos outros, porque um dia podemos passar por algo semelhante e vamos desejar que as outras pessoas sejam compreensivas. Parece simples, mas na prática, talvez não seja tão fácil. 
Eu sei que não sou uma pessoa muito fácil, mas eu tento. (juro!) O mais engraçado é quando vejo os alunos fazendo perguntas, ou tentando me explicar sobre o motivo de não ter entregado um trabalho no dia, ou pedindo para estender algum prazo, ou fingindo que está lendo o texto que eu dei, mas na verdade está com celular escondido, ou qualquer situação típica de aluno... e, tchanam! Me vem aquelas dúvidas: Será que eu pensava, na minha época de aluna, que eu conseguia enganar o professor? Ou será que eu achava que estava convencendo o professor? Porque eu ouço tudo isso e é tão estereótipo de aluno que dá vontade de rir, mas eu me controlo (às vezes). Porém, tive várias situações específicas com alunos, que não foram tão previsíveis assim, mas a gente, como professor, aprende a lidar e aprende a improvisar e se aperfeiçoa nisso. Talvez o que me encante todos os dias na vida de professora seja justamente isso, o que parece ser um trabalho rotineiro, nunca é a mesma coisa, por mais previsível que seja. Quem sabe algum aluno me surpreenda querendo "dançar Madonna" (metaforicamente, gente, por favor) e eu apoie, porque meu trabalho é esse: incentivar, instigar, ajudar os alunos a ter iniciativa e, talvez apoiando, coloco-os em dúvida, e acabo fazendo eles tomarem decisões... Como diz o meu irmão, "a vida é cheia de mistérios".
Enfim... várias fases da minha vida eu lembro quando escuto alguma música e, pensando nisso, acho que a trilha sonora da minha vida é meio esquizofrênica... Quando eu era bebê, dormia com música peruana; quando tinha 5 anos dançava Madonna no quarto (sozinha) sem medo de ser feliz; quando tinha 10 anos escutava Leila Pinheiro e chorava horrores porque morava em Joinville e queria voltar para Floripa; com 15 anos ouvia Slipknot  e Kittie (rebelde, ui); com 20, Beatles e hoje... Bom, posso dizer que sou/escuto muita coisa, porque passei por muita coisa e, apesar dos grandes micos da vida, não me arrependo de ter "escutado todos esses tipos de música", porque esse meu 1/4 de século já tem história e ainda está tentando compreender tantas outras coisas...

domingo, 6 de abril de 2014

O dia em que fui assaltada e ganhei uma flor.

Sim. Fui assaltada, à mão armada. 
Apesar da pessoa ter me levado celular e dinheiro, não me levou nada, absolutamente nada além disso, aliás, até me deu uma coisa... Deu uma reflexão. Vou parar de ser obscura e vou explicar...

Eram 23 horas de uma sexta-feira, eu estava no ponto de ônibus esperando para, tradicionalmente, me encontrar com amigos e relaxar no fim da minha semana atribulada. A rua estava movimentada, carros e pessoas apressados, pois acabava de começar a chover. Em algum momento da minha espera, vem em minha direção um homem de bicicleta. Não me preocupei, aliás, nem pensei em nada, até que ele sobe de bicicleta na calçada, pensei, então: serei assaltada. Tinha absoluta certeza disso, não me pergunte como. Apesar disso, permaneci parada, sem reagir, sem pensar, sem sentir medo. Sim, nada de medo, permaneci calma, consciente da situação, mas surpreendentemente calma. O homem, de boné e moletom - não estava bem vestido, mas também não parecia um morador de rua -, tirou de uma pochete, um revólver e soltou os dizeres: "me dá o dinheiro da tua carteira e o teu celular, e não grita senão estouro tua cabeça". Tranquilamente, eu abri minha bolsa, tirei o celular, abri minha carteira, tirei o dinheiro de dentro dela, fechei a carteira. Entreguei celular e dinheiro, continuei com minha carteira, bolsa, e tudo que tinha. Inclusive com minha tranquilidade. Aliás, tranquilidade que até agora não sei se era minha mesmo.
Fiquei alguns segundos sentada ainda, sem saber o que fazer. Levantei, e voltei para meu prédio, parei na portaria e disse ao porteiro que tinha sido assaltada, ele, muito solícito, perguntou se eu estava bem e me deu um copo d'água. Subi, meus pais não estavam em casa, comuniquei meus amigos, que me levaram para fazer um B.O. 
Depois disso, saímos da delegacia e fomos fazer um lanche. Sim. Eu continuava tranquila, não queria voltar pra casa e perder minha noite. Já no lugar, um (suposto) morador de rua aparece perto da gente, com uma caixa e uma flor e diz: "Boa noite... " e eu, mais do que rapidamente, respondo sem dar tempo de ele completar a frase: "não queremos nada, obrigada." e ele: "Vim te dar essa flor (uma rosa), não precisa pagar nada...". Naquele momento, eu paralisei, pensando no que acabara de me acontecer. Duas situações opostas, na mesma noite, que me disseram: você está bem, não importa o que tenha acontecido, você só ganhou, basta identificar o que, e não olhar para o pontinho colorido no papel branco.
Imagino que, os que lerem isso, pensem "Mas que síndrome de Polyanna! A Rafa ficou maluca!" Talvez eu até tenha ficado, mas não foi só agora. 
Essas situações só me fizeram refletir sobre o status quo da sociedade, refletir que não posso generalizar as pessoas que, supostamente, estão nas mesmas condições. Que eu, por mais que tenha "perdido" celular e dinheiro, estou bem, ótima, não perdi nada de significativo. Simbolicamente, apenas ganhei, uma flor, como um gesto de quem não me pedia nada em troca, uma bondade pra quem precisava dela. E eu não julguei depois disso, apesar do preconceito inicial, eu apenas aceitei a bondade. Porque a gente precisa, todo mundo precisa. Até mesmo o homem que me assaltou precisa. E ele, ainda mais do que eu.

domingo, 9 de março de 2014

Crise existencial, só que não.

Essa semana estava eu fazendo "aquela" limpa no meu quarto, no meio de uma big-bagunça, e me deparei com duas agendas antigas, cheias de folhas em branco. Não quis jogar fora. Eu sou meio "acumuladora" e costumo guardar várias tralhas que não servem pra nada, mas têm valor sentimental, mesmo que esse sentimento seja meio insignificante. 
O caso da agenda é meio metafórico, não quis me desfazer porque ainda havia muitas folhas em branco e eu tenho fetiche por folhas em branco, mesmo que eu nem vá usá-las, vai que um dia eu use, né? Sim, tipo aquela do unicórnio, vai que precisa... As folhas em branco da agenda, no caso, representam dias que se passaram e eu não registrei nada, ou não lembrei de registrar, aí fico pensando: será que eu aproveitei esses dias e não tive tempo de escrever nada? Ou será que eu nem tive nenhum compromisso? Ou será que eu esqueci? Geralmente a gente lembra só de coisas mais marcantes, até já falei sobre isso, ou são coisas muito boas ou muito ruins. Aí pensando nisso eu lembrei que deveria registrar mais uma etapa da minha vida, pra posteridade...
A etapa que eu quero registrar hoje é o início da minha vida como Professora, porque é assim que sou chamada durante a semana, de segunda a sexta eu não tenho nome próprio. E sim, estou adorando. Sou praticamente um zumbi, acordo às 5h30, dou aula até as 22h, mas me sinto leve, satisfeita. Mais uma vez não me imagino fazendo outra coisa. 
No início do ano eu ainda não sabia o que seria de 2014, fiz algumas entrevistas, enviei currículos para inúmeras escolas e fiz duas seleções para professor. Passei nas duas seleções, no Colégio de Aplicação da UFSC e no Centro universitário de São José. Confesso que não acreditava muito que ia passar nem em um e nem em outro, mas passei e serviu para eu confiar mais em mim mesma. Mesmo sendo para professora substituta nos dois casos, a sensação de conquista é muito boa. Passada a euforia da contratação, vieram as aulas: Ensino Médio - 1ºs e 3º ano -, Graduação - Administração e Pedagogia. A primeira semana era tudo novidade, tanto pra mim quanto pros alunos, uns até mais velhos que eu. A frase mais ouvida foi: "Você é a professora? Pensei que era aluna". (inclusive no primeiro ano do ensino médio!) Depois da surpresa da minha cara de novinha (ui!), percebi o respeito pelas minhas aulas e fiquei satisfeita que minha escolha foi a certa. Saio flutuando de cada aula. Claro, sempre há aquelas bagunças, umas chamadas de atenção, mas até isso dá uma certa satisfação, porque faz eu me lembrar que isso é o mundo real e eu tenho que aprender junto com os alunos. Já se passou mais de uma semana de aula e o saldo até agora é bem positivo: fui convidada para participar de uma banca de TCC, para ser orientadora de um TCC e para ser madrinha da turma do 1º ano nas Olimpíadas do colégio. Pra quem não vive a profissão, talvez não saiba o que é a satisfação de fazer o que gosta, mas vou contar um segredo: é muito bom, todos deviam tentar!
Ainda falta muito pro término do ano letivo, mas espero que todos os dias me façam flutuar de alegria e satisfação e também que meus alunos possam sentir isso um dia, na profissão que escolherem.
Faz bem pra alma. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

2014, o ano das mudanças (ou, o dia do desmaio irritado)

Pois então, a primeira escritura do ano... Não quis fazer uma retrospectiva do ano que passou, porque o que passou, passou (tautologia é amor, -sqn). Portanto, prefiro falar de abstração, do que ainda não foi, do que é só fluxo de consciência (por enquanto).

Dizem que esse ano será de mudanças (tomara que sejam pra melhor!), pois eu, moça observadora que sou, já percebi mudanças (in)significantes na minha vida. A primeira delas: minha compulsão por controle, planejamento e metas se foi por água abaixo... Pela primeira vez na minha vida eu não sei o que eu quero fazer, não estou preocupada em cumprir algum prazo, ou preocupada com saúde (não como nos últimos anos). É uma sensação estranha, de alívio e ao mesmo tempo de ansiedade por não saber o que o mundo me reserva. Nunca fui do tipo "deixe a vida me levar", mas essas "férias" (leia-se: desempregada no momento) estão me ensinando a ver as coisas com outros olhos. Esse olhar diferente PASMEM me faz "aproveitar" até os segundos, sem ficar pensando no que pode acontecer. Alguns chamariam de inconsequência, eu não sei ainda do que chamar, porque é algo novo pra mim. 

Conheci muitas pessoas nesse ano que passou, tive muitas experiências gratificantes, mas essa expectativa pela novidade é tão misteriosa que, às vezes, apaga alguns fatos antigos. Eu prefiro pensar que daqui pra frente vão me surgir oportunidades que me situem nessa passagem louca que é a vida, porque até agora eu estou meio desnorteada. Quem sabe todas essas "loucuragens" (vide todos os outros posts do blog) sirvam de lição pras minhas decisões, ou de exemplos em novas situações. Esse ano pra mim é bastante incerto e comecei a achar que o incerto pode ser bom, mesmo com os percalços...

Um dos percalços já se apresentou, esse não tão bom assim. Um pseudo-desmaio (porque eu não sei se foi bem um desmaio, nunca desmaiei antes), pura e simplesmente porque eu fiquei IRRITADA (sim, eu irritada não é novidade). É (pros que sabem da saga do cushing - insuficiência adrenal), faltou cortisol pra controlar o estresse e comecei a ver tudo branco, ficar tonta e o corpo pesar e.... meu pai me segurou e enfiou 2 comprimidos goela abaixo e PLIM, Rafaella nova em folha. Nunca tinha acontecido nada tão extremo assim ainda, por culpa da insuficiência adrenal, mas pelo menos agora já sei como é e já sei quando é hora de tomar outra dose de prednisona. Claro que todos os presentes no momento se assustaram, mas, como sempre, depois nós damos risadas e tá tudo certo.
Tirando essa nova doideira, eu passei UMA SEMANA na PRAIA. Coisa que também nunca fiz na vida. E ainda pra complementar: fiquei bronzeada. Sim, bronzeado com colaboração do tumor ~querido~ produtor de ACTH (sim, esse continua lá em algum lugar da minha grande hipófise de 3mm), que provoca hiperpigmentação, logo, pego sol e fico da cor do pecado (ui!). Claro que no meio dessa semana aconteceram alguns episódios bizarros, tipo ataque de pânico por causa de uma aranha e coisas do tipo, mas nada muito extraordinário vindo de minha parte. 

Enfim... quem sabe as novas peripécias de Rafaella esse ano sejam menos "irritadas", pra não ocorrer muitos desmaios, e que as mudanças venham em doses homeopáticas, mas sempre positivas. 

Um feliz início de ano pra todos. ;)