segunda-feira, 25 de junho de 2012

sexta-feira, 15 de junho de 2012

adrenalectomia videolaparoscópica bilateral

Toda vez que eu saio de uma cirurgia fico pensando num título apropriado e estou num clima meio autoajuda. Dessa vez eu não tô nesse clima e nem quero pensar num título muito criativo.
Sim, fiz outra cirurgia, a adrenalectomia videolaparoscópica bilateral, traduzindo: tirei as duas glândulas suprarrenais. Agora não produzo mais nadinha de cortisol.
Essa cirurgia foi a última etapa contra o cushing, agora tenho que andar com uma pulseirinha dizendo que eu tenho "Insuficiência adrenal", porque em qualquer situação de estresse eu preciso tomar dose extra de cortisol em comprimido.
Não fiz muito alarde em redes sociais dessa vez, mas como eu não aguento, preciso "colocar pra fora".

Fiquei no Hospital Baía Sul, um dos mais caros de Florianópolis. Bela fachada. De todos os que eu passei, foi o mais despreparado. A cirurgia ocorreu tudo bem, os médicos - que são contratados pelos pacientes e não têm relação direta nenhuma com o hospital - foram ótimos e competentes.
Depois de ter sido diagnosticado o cushing e depois de eu ter passado por tantos médicos, ficamos (eu e o pessoal aqui de casa) calejados de procurar médicos com boas referências. Se tem uma coisa que eu aprendi foi: referência é essencial em tudo na vida.
Esse hospital nós não tínhamos referência, mas o médico (urologista, indicado pela minha endócrino, que eu confio 100%) operava lá e optou por esse por ser mais "Novo" e ter menos riscos de infecção e etc... Tudo bem, menos riscos de infecção por ter menos pacientes, mas em compensação também tem menos preparo e mais descaso.
Minha mãe foi colocar o carregador do celular na tomada, o espelho da tomada caiu. Fomos ligar o ar condicionado porque a janela não abria e tinha uma reforma no prédio do lado e a batição e o barulho eram significativos, aí o botão caiu e não ligou. Pedimos uma toalha de banho à noite, no outro dia de manhã pedimos de novo e a resposta foi "temos uma briga constante com a rouparia" (detalhe: a toalha não veio!)
Daí eu pergunto: como assim isso é um hospital caro? Cadê os gestores desse lugar?

A cirurgia foi na terça-feira, fui direto para a UTI e passei menos de 24 horas.
Mas... aquelas coisas de UTI, impossível dormir, morrendo de dor, aí, pra melhorar: enfermeiros que pensam que só porque estamos imóveis nós somos bonecos e ficam falando alto e fazendo palhaçada como se não tivesse ninguém ali.

Pausa para descrever a cirurgia:
As adrenais são glândulas que ficam próximas dos rins, pra retirada delas (no método por video) foi necessário fazer 5 furos na minha barriga. Um acima do umbigo, um abaixo do seio direito, um entre os seios, um abaixo do seio esquerdo e outro um pouco mais pra baixo do lado esquerdo. Eu não quis perguntar muitos detalhes e preferi saber só do principal, porque já tô cansada de procedimentos cirúrgicos e tudo o mais... o que eu sei é que dentro de um desses furos (do lado esquerdo embaixo do seio, que deve ter uns 2 ou 3 centímetros) foi inserido um tubo pra colocar gás dentro da minha barriga! Esse gás servia pra visualizar melhor os órgãos dentro de mim - pra "separar" os órgãos, dar uma distância pro médico poder mexer, ou algo do tipo - e também pra poder fazer o procedimento com a câmera e tudo o mais... ou seja, minha barriga foi inflada. Nem preciso dizer que esse gás me deixou pior que um baiacu, né?

Pois é, em tese, cirurgia na cabeça é mais perigosa, todo mundo fica apavorado se sabe que fiz cirurgia "no cérebro". Mas, sinceramente? Acho que essa foi bem mais dolorosa. Claro que eu estava sob efeito de anestesia geral, mas a recuperação, por ter cortes e detalhes do tipo, é mais chatinha... Me senti mais inútil que da outra vez, porque até pra levantar da cama precisava de ajuda. Imaginem uma barata de barriga pra cima que fica se debatendo tentando se virar e não consegue. É mais ou menos isso. Ainda tô toda dolorida, com curativos, não durmo desde terça-feira, pareço um zumbi e ainda tô com uma marca roxa que parece que levei uma pá nas costas. E só porque eu não consigo nem rir, porque minha barriga dói horrores, daí tô achando graça em qualquer babaquice que falam aqui em casa. (não é bem "qualquer", mas, dá pra entender, né?)

Como eu sei que o pessoal gosta de ler coisas trágicas, preciso contar uma parte sangrenta - literalmente. Quando eu já tinha saído da UTI, estava no quarto, cheia de fios e soro e aquela coisa toda. Mas o acesso que eu tinha pro soro e pra medicação já estava há muito tempo e precisava ser trocado. Ok. Nunca tive problema pra "ser furada", já tô craque... mas, as queridas em treinamento que tentaram pegar minha veia não estavam craque. Uma tentando e a outra olhando, reclamou mil vezes e fez brincadeirinhas dizendo que deixei as veias em casa e blablabla e eu fingindo que tudo estava bem e percebi que ela tava nervosa, então melhor nem falar nada pra não piorar a situação. Primeira tentativa: minha mão, aí a querida número 1 pede pra querida número 2 abrir o soro, começa a correr e minha mão a inchar, ou seja, tava fora da veia. Nem falei nada. Minha mãe só disse: tá inchando, tá fora, tira isso aí. Querida número 1 tirou e foi atrás de outra veia, ficou batendo no meu braço inteiro e apertou tanto com um garrote que tava quase decepando meu pulso, aí eu falei: tô vendo e sentindo pulsar aqui ó (apontei com o dedo), ela concordou disse que era ótima e que ia conseguir e ficou tagarelando, aí furou, pedi pra tirar o garrote (porque já não precisava mais, já que ela já tinha furado e meu braço já tava doendo, claro que não falei nada disso, só pensei), ela tirou e pediu pra querida número 2 abrir o soro de novo, aí ela abriu, aí minha veia começou a escorrer muito sangue e não deixou o soro correr, aí as duas arregalaram os olhos e pegaram uma toalha de rosto pra tentar estancar o sangue que não parava, a toalha ficou completamente manchada de vermelho. Eu só respirei fundo e falei "posso tomar banho primeiro? depois vocês tentam de novo". Por dentro eu queria arrancar a cabeça delas, mas deixar mais nervosa as pessoas que vão te furar não é uma boa estratégia. Aí ok. Depois tomei banho e tudo o mais, as duas foram chamar a enfermeira chefe pra tentar, pela terceira vez. Deitei na cama, olhei pro outro lado e respirei fundo. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH, PARA, CACETE, PELO AMOR DE DEUS, NÃO TÔ SENTINDO MEU DEDO! POR FAVOR, EU TOMO OS REMÉDIOS EM COMPRIMIDO!
É, a querida número 3 furou alguma coisa que não era pra ter furado e meus dedos das mãos começaram a se contorcer e eu não estava conseguindo movimentar voluntariamente e doeu tanto que eu xinguei até a última geração da família dela. Pedi desculpas depois, lógico. Mas... só pra me deixar bem mais calma, ela pergunta pras outras duas "qual era a medicação que ela precisava tomar intravenosa agora?" As duas respondem "não sei, vou olhar no prontuário", aí elas voltam e dizem "ela não tem mais medicação", aí ela pergunta de novo "e por que vocês estavam tentando acesso nela?" As duas ficaram se olhando e não sabiam responder!
Ótima situação, heim? Daí ainda dizem que eu não tenho paciência.

Não dá ainda pra todos ficarem felizes porque era pra eu estar mais calma, porque não produzo mais cortisol extra e etc. Na verdade ainda tô com muito cortisol, porque tô tomando uma dose muito alta no pós-operatório.
Enfim, a luta contra o cushing acabou! A nova luta agora é uma surpresa pra mim! (e pra todo mundo que me conhece e está ao meu redor, logicamente)


Bom, acho que chega, não tô muito inspirada e essa dor nas costas e na barriga tá me impossibilitando de me deixar mais tempo na frente do computador.


A cirurgia deu certo, vim pra casa hoje, já consigo levantar sozinha, mas olha... quero distância de cirurgia e hospital por um longo longo longo longo longo tempo!

Espero em breve dizer que tô mais calma e menos chata...
embora eu ache que isso não tinha tanto a ver com cushing e lamento decepcioná-los e confessar assim...

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Post atualizado em 26 de setembro de 2013:
Apenas um adendo, sobre o Hospital Baía Sul. Meses depois da minha cirurgia, minha mãe fez uma cirurgia lá, a experiência dela foi outra completamente diferente, mas o caso é: ela fala muito bem do tratamento que teve e as instalações do hospital haviam melhorado bastante. Meu irmão também fez uma cirurgia lá e eu já fiz outros procedimentos lá depois disso, todos ótimos, sem reclamações. Então, não julguem o Hospital por esse post, cada um pode ter experiências diferentes (até eu mesma, em outro momento!). Meu objetivo aqui não era fazer propaganda contra (absolutamente!!!), mas apenas relatar o meu "momento" e a maneira como eu via a situação na época. Hoje estou bem e essa cirurgia foi a definitiva, que me curou finalmente. (como pode ser visto nos posts posteriores) Enfim, fica aqui a consideração. (:

quinta-feira, 7 de junho de 2012