terça-feira, 18 de dezembro de 2012

I would prefer not to... be.

uma coisa que fica martelando na minha cabeça nesse período "dissertativo" da minha vida é a afirmação barthesiana de que a língua é fascista, porque nos obriga a "dizer". eu "digo" coisas mesmo sem ter dito nada e é isso que nos coloca numa posição inferior a alguma coisa (à língua(gem)? ao poder do discurso? a uma força maior? a sei lá o que...), que nem sabemos, de fato, definir. os supostos diálogos sem palavras que acontecem a todo instante poderiam ser imensos livros filosóficos sobre coisas da vida. infinitas teorias já poderiam ter sido registradas se alguém tivesse a capacidade de reverter o silêncio em palavras e organizá-las em textos, em papeis, em arquivos digitais, ou tabuinhas esculpidas. infelizmente eu não sou uma dessas pessoas e olha que meu silêncio é bem barulhento, dentro da minha mente. 
a postergação da escritura, tanto aqui, como academicamente falando, só gera mais e mais escritos perdidos em algum lugar no "mundo dos livros não escritos". leio muito e, na verdade, leio pouco. escrevo muito e, na verdade, escrevo pouco. um dia me disseram que quem sabe que não sabe é um sábio. eu poderia ficar satisfeita com essa afirmação, mas eu não sei nem o que é um sábio, há quem diga que é um elogio, eu acho que é uma maldição. não quero ser amaldiçoada, não quero saber tudo, mas a partir do momento que me deram um mínimo "saber" já me deram uma pontinha da maldição do "querer saber mais" e nunca vou saber o suficiente pra ficar satisfeita. isso é frustrante, mas ao mesmo tempo é uma forma de ter sempre um objetivo. às vezes dá vontade de escrever infinitas confissões sobre pensamentos escondidos em algum lugar, que fazem uma pequena aparição momentânea, mas aí eles somem de novo e a coragem e a convicção que estavam com eles desaparecem junto. não sei bem se é questão de coragem, porque não é algo de que eu tenha medo. só acho que é muito difícil decidir o que se acha digno de ser compartilhado, ou registrado. escrever, pensar, cogitar possibilidades quando se está sozinho é quase como tentar sair de um buraco tentando puxar os próprios cabelos. não leva a lugar algum, a gente permanece no mesmo lugar... e com a cabeça doendo. por outro lado é libertador escrever (ou dizer) quando não se tem receio de ser julgado, um dia eu achei que eu não tinha, mas só achei e agora (me) perdi. 
a verdade verdadeira é que é (que é que é que é...) tanta coisa pra se ter opinião, são tantos acontecimentos, tantas discussões, que eu canso, desisto antes mesmo de dizer (escrever, argumentar, fazer) qualquer coisa... parece que de nada vai adiantar ter uma opinião que está bastante consistente na nossa cabeça, mas não tem jeito de entrar na cabeça de outra pessoa. pra que se dar ao trabalho então? pra que querer mudar? pra que agir? se eu posso ficar parada, não mostrar o que eu acho, o que eu penso, o que eu sinto... mas aí não vai acontecer nada. e não acontecer nada não é uma coisa muito emocionante ou satisfatória. não vai piorar, mas também não vai melhorar nada. não vai mudar nada. eu não quero o "nada". em contrapartida, i would prefer no to
eu preferiria não ter distúrbios hormonais, eu preferiria não ter que lidar com burocracia, eu preferiria não ter obrigação de escrever, eu preferiria não pensar na minha aparência física, eu preferiria não ter frustrações, eu preferiria não ter responsabilidades, eu preferiria não ter que explicar minhas decisões, eu preferiria não ter que tomar decisões, eu preferiria não depender de ninguém, eu preferiria não achar que existem injustiças no mundo, eu preferiria não me sentir mal ao ver alguém doente, eu preferiria não ter apenas uma visão ocidental do mundo, eu preferiria não estar insatisfeita com política, religião e a sociedade, eu preferiria não estar cheia de dúvidas, eu preferiria não ser egocêntrica, eu preferiria não... ser. (?)
"eu preferiria não", mas eu sei que eu preciso "sim" fazer infinitas coisas, mesmo preferindo não fazer... talvez eu apenas esteja num momento bartlebyano demais e eu não consiga escrever/dizer o que eu gostaria, mas como a língua(gem) é fascista, ela me obriga a dizer, mesmo que seja qualquer coisa que eu nem queira dizer... por isso eu digo. por isso eu escrevo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

atazagorafobia



Acho que em tempos modernos, em tempos de internet, em tempos efêmeros, o compartilhamento de inúmeras coisas que parecem ser lixo eletrônico, palavras sem fundamento ou qualquer coisa para motivo de risadas é só mais uma maneira das pessoas se manterem visíveis. O medo de se tornar invisível, ou de ser superado é o que move esse vício aparentemente sem propósito. É uma consequência da sobrevivência em rede, da vivência em sociedade, uma sociedade cheia de anseios e individualismos que em uma fração de segundos nos une e nos distancia. A vontade de mudar o mundo é o que move os corações, mas ninguém pensa no que é o mundo. Eu não penso no que é o mundo. Eu luto por um lugar melhor, mas apenas por saber que existe lugar pior. Só não sei o que é lutar.
Em tempos de exposição, em tempos de circulação, em tempos de discussões rasas, em tempos de opiniões formadas sobre tudo, quem não finge que sabe? Todos são donos da verdade, todos são investigadores, detetives de causos inventados. O segredo é: duvidar. O desejo é: conspirar. A realidade é: esperar. O fato é: repetir. O medo é: sumir.





terça-feira, 23 de outubro de 2012

Paradoxo da sapiência, ou, qual a moral da história?

Toda vez (que eu viajava pela estrada... ) que eu me disponho a abrir o arquivo com a minha dissertação eu travo. Então, pra não perder a viagem, dessa vez eu abri a aba de postagem do blog... não que eu tenha qualquer coisa interessante pra falar, ou alguma coisa que valha a pena ser compartilhada nesse momento, mas só pra não perder o hábito da escrita, que, na verdade, não existe. 
Ninguém tem hábito de escrita, assim como ninguém tem "hábito de leitura". Quando alguém fala que "o brasileiro precisa adquirir o hábito da leitura", eu fico pensando: "o brasileiro deveria adquirir o hábito de dar seta no trânsito, de jogar lixo no lixeiro, de ser educado com idosos, de parar de reafirmar que pra tudo existe 'o jeitinho brasileiro'... E outra coisa muito importante: parar de afirmar e se identificar com a afirmação que "brasileiro deixa tudo pra cima da hora!". 
Eu queria tirar essa coisa que me colocaram na cabeça, porque meu subconsciente assimilou isso de uma forma, que eu não dou conta de tudo que tenho que fazer "em cima da hora". Porque eu nem tenho que fazer nada em cima da hora, mas se tenho tempo pra fazer, não consigo. Já me disseram: "o segredo é a disciplina!", mas se for esse o segredo mesmo, o segredo tá muito bem guardado, porque eu não descobri como me disciplinar. 
Depois que meu último exame deu tudo ok, digamos que o Cushing não é mais desculpa pra nada, ou seja, se eu não consigo fazer qualquer coisa, a culpa é minha. Mas, sinceramente? Eu acho que o Cushing nunca foi desculpa pra nada! Até porque se foi, no período que eu descobri até a última cirurgia, eu tive tantas "conquistas" que posso até agradecer ao cushing então... Tá, nada a ver eu citar o Cushing falecido agora, o caso é: eu estou muito bem, obrigada, etc e tal... PORÉM, eu estou sofrendo com outra doença e essa doença já me acompanhava antes e às vezes eu chego a pensar se essa doença não foi o que me deixou com cushing. Lógico que é a maior viagem e parece uma teoria da conspiração, mas às vezes faz sentido (pelo menos pra mim).
A doença que eu me refiro é a "doença acadêmica": a obrigação de estar sempre produzindo, escrevendo, lendo, cumprindo horários na universidade, de pesquisa, de aulas... Tudo isso nos deixa com um nível de estresse tão elevado que acaba desregulando as produções normais de hormônio de qualquer ser humano. Em consequência disso, como o cortisol é hormônio do estresse, meu organismo endoidou e lançou um tumor na minha hipófise pra conseguir produzir tanto cortisol que meu corpo estava pedindo... mas é aquela coisa, tudo quando é demais faz mal, aí deu no que deu. 
Um monte de blablabla, mas faz sentido, vem dizer?
Pois então... agora que o cortisol foi embora e eu estou com insuficiência adrenal, meu problema da doença acadêmica tá tomando proporções maiores, acho que meu organismo tá meio idiota e não tá respondendo aos estímulos mentais que eu preciso pra escrever o que deveria... 
E daí eu me pergunto: o que eu deveria escrever? *pergunta de um milhão de dólares*
É complicadíssimo achar que deve escrever um zilhão de coisas e achar que também não dá conta de escrever nem uma mísera coisa. Há quem diga que sábio é aquele que tem consciência que não sabe praticamente nada. Paradoxo da sapiência: o sábio que sabe que não sabe. E eu digo: pqp! Se fosse assim eu era uma gênia! Posso colocar isso no meu lattes?
Eu sei que todo mundo passa por dificuldades e todo aquele blablabla de livros de autoajuda que eu sempre escrevo, mas a gente cansa de ficar empacado batendo na mesma tecla, né? Tudo bem que eu já bati em várias teclas aqui, agora, mas não são as teclas certas. Quero minha dissertação do mestrado pronta amanhã sem eu precisar pensar muito nas teclas, só ir digitando, como se fosse a coisa mais normal do mundo, como se eu tivesse o hábito da escrita (que não existe).
A minha crise dessa coisa de "hábito" do sei lá o que é pelo tema da minha dissertação, sim, lógico. Meu tema de pesquisa basicamente é literatura em sala de aula (nos anos iniciais do ensino fundamental). O que eu acho interessante é que TODO MUNDO afirma que ler literatura é muito importante, leitura faz da gente uma pessoa melhor e todo aquele papo que todo mundo que vive no mundo moderno, numa sociedade grafocêntrica, conhece. O caso é: tá, ler literatura é importante, eu também acho, mas eu acho porque eu gosto e se eu não gostasse? Será que eu acharia a mesma coisa? Será que a gente não acha importante certas coisas simplesmente porque a gente não gosta? O que faz a gente não gostar das coisas? *pronto, minha cabeça explodiu agora* 
Então... a parte da "moral da história" lá do título... é. O título (provisório, porque na dissertação tudo é provisório até que chegue o dia da impressão final) da minha dissertação é relacionado a isso. Nem sei se eu poderia ficar escrevendo aqui, vai que alguém rouba meu título genial, né? Mas não tem problema, já tá registrado no lattes e no comitê de ética mesmo, se começarem a usar pelo menos o meu é datado! (se ligaram na minha super ameaça disfarçada, né? cof cof) Qual a moral da história? Afinal, história precisa de moral? O que se considera história? Chatice, né? Eu acho o máximo. Pena que justamente o que eu acho o máximo é o que me deixa doida. 
A gente vive procurando respostas, criando perguntas, complicando a vida... pesquisas acadêmicas, pra mim, se resumem a isso: inventar problemas pra poder ter uma pesquisa. Não, eu não acho isso uma coisa ruim, pelo contrário, acho que esse é um dos objetivos do ser humano: investigar. Talvez todo mundo tenha um pouquinho de detetive dentro de si, (vulgarmente conhecido como: síndrome de fofoqueiro) mas isso não quer dizer que toda investigação seja relevante... Daí que volto pro lance da moral da história... será que tudo precisa de um sentindo? Talvez eu conclua o mestrado e descubra que tô na área errada... ou talvez não exista essa coisa de certo e errado. Ou talvez esteja tudo errado. AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH...

domingo, 30 de setembro de 2012

You better run, better run faster than my bullet (ou, hard e com emoção)

Mais de um mês desde a última postagem, voltei com boas notícias! 
(Não, não estou muito mais calma e organizada e ponderada e nada desse tipo de "ada". Eu disse que eram boas notícias e não notícias impossíveis.)
Então... ontem foi meu aniversário, agora tenho 23 anos. (essa é uma "boa" notícia, mas não é o que eu ia dizer) Bom, eu deveria começar pelo começo, mas estou meio anacrônica. Hoje eu estava pensando no meu "currículo". 23 anos, formada em Letras, mestranda em Educação, um tumor e 3 cirurgias no cérebro, 1 cirurgia pra retirada das adrenais, 1 cirurgia de adenoide, nenhum osso quebrado, cabelos loiros, cabelos ruivos, cabelos pretos, cabelos loiros de novo, 1 piercing (que "sumiu"), 2 tatuagens, um afilhado, um show de um dos Beatles, um show de um Nirvana, vários shows do meu irmão, algumas aulas (ministradas por mim), alguns concursos, algumas lágrimas, alguns sorrisos, alguns desejos... 
O mais louco disso tudo é pensar que o que eu tinha planejado pra quando eu tivesse 23 anos eu tenho. Pensava em estar formada, morando sozinha, fazendo mestrado e com saúde. E, adivinhem só (sim, a notícia boa!!!) eu estou com saúde! Na verdade eu já estava, mas a questão é: NÃO, EU NÃO TENHO MAIS CUSHING! Meus exames estão oficialmente livres do cortisol extra! Aliás, meus últimos exames indicavam um índice abaixo da quantidade possível para análise. Isso poderia ser perigoso, se eu tivesse sintomas de outra síndrome, se eu estivesse caindo pelos cantos, sem conseguir praticamente me manter em pé. Mas não, eu sou a incrível Rafaella, com dois L. O quase nada de cortisol que estou tomando em comprimido são mais do que suficientes pra me manterem em pé, e não me fazem ter nenhum sintoma de fraqueza significativo. Aí que novamente eu entro naquelas loucuras de que eu devo ter super-poderes. 
Enfim, o que me peguei pensando hoje no meu momento filosófico enquanto lavava louça é que lógico que eu não planejava ter Cushing no meio do caminho, mas eu tive, só que planejei estar bem e estar onde estou agora. Não importa o que passei, o resultado alcançado foi o que planejei. (rimou, ui) Claro que tenho muitos outros planos ainda, mas eu me imaginava mais ou menos como eu estou (só que mais magra! óbvio.) 
É esquisito dizer "não tenho mais cushing". Digamos que eu nunca tive, de verdade. Nunca senti que eu tivesse que me privar de alguma coisa em decorrência da doença, do tumor e de todas essas coisas que parecem aterrorizantes. Parece que eu só falo disso, mas é esquisito falar de alguma coisa que, como agora eu não tenho mais, eu poderia simplesmente apagar do meu passado, dizer que nunca aconteceu. Mas acho que relembrar isso me faz uma espécie de veterana de guerra, faz de mim mais forte (apesar de eu mesma me achar uma fracote), parece até que foi tudo invenção da minha cabeça pra colocar um pouco mais de emoção na minha vida. Imagina que monótono seria se eu só tivesse feito uma graduação normal, sem ter que ficar internada no meio do caminho, se eu fosse calminha e meiga e não tivesse terminado namoros, se eu fosse uma filha e irmã exemplar que não discutisse e não brigasse e não desse xiliques, se eu tivesse ganhado bolsa no mestrado sem ter problema de ter acabado de fazer (mais uma) cirurgia no cérebro e quase não conseguir assinar os papeis... Imaginem que chato seria se eu não tivesse o prazer de começar a tomar bebida alcoólica, depois de achar que eu seria proibida pro resto da vida (sendo que antes eu nem bebia e não fazia diferença nenhuma). Imaginem que chato seria se eu continuasse magrinha como eu era e não tivesse nenhuma "estria de cushing"... 
Essas marcas são minhas cicatrizes de guerra, minhas provas, meus lugares de memória. Numas aulas do mestrado, há uns dias,  estávamos discutindo sobre memória coletiva, memória individual, memória-história e essas coisas... Os textos da disciplina fala(va)m sobre importância de histórias de vida (dentre outras coisas e uma discussão muito mais abrangente que isso, mas não vem ao caso), e eu me perguntei: será que a minha história vai ter importância pra alguém, além de mim (e minha mãe, meu pai, minha família e tals)? Que tipo de importância? O que é importante? O que deve ser contado?
Eu leio tanto Alice que já cheguei até a pensar que essas "pedras no caminho" podem ser tudo fruto de sonhos. O passado passou. Será que passou mesmo? Como eu acredito no passado? A gente vê o passado através do presente e mesmo assim é uma coisa muito rápida. Por exemplo, comecei a escrever esse post há umas duas horas... Fico escrevendo, apagando, pensando, selecionando palavras, lembrando... e o passado só se "concretiza" quando eu digito a palavra pra eternizar a fração do passado que eu quero tornar público. Nesse exato momento, estou escutando a música "Pumped up kicks", da banda "Foster the people". Eu queria tornar pública agora a sensação de satisfação que eu tô sentindo e a lembrança boa que essa música me traz, mas é impossível. Não tenho como colocar em palavras o que eu sinto numa fração de segundos e nem sei explicar. Essa música me lembra a primeira viagem que fiz junto com meu irmão, pra SP, que não foi pra eu ir pro hospital, foi pra eu ir a um festival de música, pra não me preocupar com cushing. A sensação de quando eu estava lá foi tão satisfatória quanto a satisfação de saber que passei por um monte de coisas ruins, mas superei e tô aqui escrevendo. 
É inexplicável a nossa necessidade de querer se explicar. Escrever me dá essa possibilidade e ao mesmo tempo me tira essa possibilidade. Quando a gente escreve, a gente seleciona palavras e momentos pra serem registrados, mas essas escolhas nem sempre são as que exprimem o que nós queríamos, de fato. 
Agora eu nem sei o que eu queria exprimir, pode ser que eu esteja só divagando, mas é porque estou bem. 
Quando eu tinha muito "fato" pra contar - na minha fase cushingniana - é porque eu estava vivendo "altas aventuras", mas agora que venci o cushing, dei um UP na minha vida e possivelmente eu não precise mais citar essa doença. Posso deixar o passado passar e viver o presente pensando em outros planos, sempre mantendo a saúde nos meus pontos de chegada. Eu não excluo do caminho as intempéries, porque eu escolhi viver a vida no modo "hard e com emoção". 
Desculpem-me os que vivem comigo e não escolheram essa opção, se quiserem me acompanhar vão ter que correr! (prometo que ajudo!)
Sempre que lembro dessa "minha escolha", falo pra mim mesma: sobreviver é fácil, quero ver ser eu! E aí, em seguida, meu subconsciente responde: Challenge accepted! 


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

chorar é bom

Tem gente que chora de tristeza, tem gente que chora de felicidade, tem gente que chora por desespero, tem gente que chora de raiva, tem gente que chora de decepção, tem gente que chora de medo, tem gente que chora pelos outros, tem gente que chora por si mesmo, tem gente que chora com filme triste, ou com filme bonitinho, ou com filme de terror, tem gente que chora por nada... eu faço tudo isso e não tenho vergonha de admitir.
Chorar é uma catarse, purifica a gente, purifica a mente. Não traz solução, traz soluços, mas mesmo que não seja resposta pra nada, ajuda a aceitar as coisas, ou pelo menos a botar pra fora, vomitar o que o coração não aguenta... Sim, eu chorei quando vi o resultado do meu exame e meu cortisol continuava alto, chorei porque é difícil aceitar que você passou por 3 cirurgias, ficou internada em hospitais diferentes, longe da sua casa, tentou várias dosagens de remédios, foi em vários médicos, já leu sobre todas as possibilidades... É difícil aceitar que já são 4 anos com uma doença que parece não ter fim, saber que você contraria todas as estatísticas e todo aquele bla bla bla...
Aí me dizem e eu fico pensando com dor na consciência "mas tem gente que tá pior que eu"... Existir pessoas com problemas piores que o meu não diminui o meu sofrimento, nem apaga os meus problemas. Mas chorar pensando nisso elucida, limpa os pensamentos, ou só deixa eles molhados...
Aí me disseram: "Rafa, mas pensa que tu és muito interessante, eu gostaria de te estudar!" Claro né, uma aberração linda e de olhos azuis até eu ia querer estudar! Pena que sou eu mesma! 2 anos "estudando" a doença já tá bom,  não quero me graduar, um tecnólogo em cushing já tá bom, agora chega.
Claro que me desesperei em ver que meu cortisol ainda estava alto, chorei, liguei pra minha mãe, meu irmão ouviu e praticamente me intimou a ir pra casa (achei cute, mesmo que quando eu chegue lá ele me me chame de chata o tempo todo) mandei e-mail e mensagem pra médica (as 23h!).
Ela me ligou no outro dia e me disse muito "reconfortantemente": "Fala, sua desesperada! Não se assusta assim, vamos trocar o remédio, tu pega a requisição de exame aqui e faz outro exame depois que tomar o outro remédio, eu vi teu anatomopatológico (vulgo: resultado da cirurgia) e tu não tens mais as adrenais é impossível tu produzires cortisol."
Não sei se isso me deixou mais calma ou só conformada com a minha situação de aberração. Mas em todo caso, eu recebi o telefonema quando estava no shopping center com a minha mãe, então eu já estava mais calma. Mesmo uma aberração, se está fazendo compras com a mãe, consegue ser calma. (fica a dica!)
Agora eu tô melhor, já chorei, já ri, já saí, já troquei o remédio... só não fiz um novo exame (é o que me amedronta, mas ok)

Essa semana não tô muito "auto-ajuda", mas até que tô com uns pensamentos "auto-ajudantes", só não tô muito apta pra expô-los, porque esses pensamentos são rápidos e eles correm de mim quando eu consigo chegar perto de alguma coisa pra registrá-los.
Acho que meu projeto "verão 2013 com medidas perfeitas magicamente" vai ter que ser alterado pra "verão 2014 com muito suor e malhação". Fazer o que, né? Eu sempre falava pra minha mãe na minha adolescência (cof cof, me sentindo idosa) "eu queria tanto ser diferente!"
Agora toma na cara, Rafaella.
Sou diferente de todas as estatísticas de "praticamente 100% dos casos de cura após adrenalectomia". Eu sou o "praticamente"! Não era isso que eu pedia (eu acho)... acho que isso serve pra eu aprender a pedir melhor, ser mais específica. Deixar de ser preguiçosa na escolha das palavras, a gente tem que falar tudo que precisa, nem mais, nem menos.
Mas contrariando o que eu acabei de afirmar, vou parar de "falar", porque mesmo que eu precise falar outras coisas, não acho que agora seja o momento (até porque eu tô atrasada pra outras coisas, enfim...)
Não que escrever no blog seja uma coisa muito necessária, né? Mas é tipo chorar... escrever faz a gente se organizar e tentar colocar as ideias no lugar.
Chorar é bom. Escrever é bom. (sem analisar sintaticamente, por favor, obrigada)


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

cortisol 24h

Tenho poucas coisas a dizer...
frustração
decepção
desespero
aberração
incompreensão



CORTISOL LIVRE URINARIO *
   Metodo: quimioluminescencia

 * CORTISOL LIVRE..........: 361,26                               

(valor de referência: 55,5 a 286,0 ug/24h)
* OBSERVACOES *
   Volume tido como de 24 horas em ml: 1620
   Realizado DLE, RJ sob no: 002-16293-336

 Data e hora do registro da coleta: 06/08/2012 as 06:00

espero explicação, SOLUÇÃO. e só.
.
.

tentativa de postar um PDF





Com ajuda de um primo meu, muito querido, consegui colocar o PDF direto no post! Vivas!

Esse livro eu fiz numa disciplina enquanto eu ainda estava na graduação.
Observação importante: Miguel é meu afilhado.







quinta-feira, 9 de agosto de 2012

o que será, que será?

E hoje foi mais um dia de consulta médica... o que era pra ser um dia de respostas. 
Mas não foi. 
Quer dizer, foi bem mais ou menos... 
Daqui 3 dias minha "adrenalectomia bilateral" vai fazer aniversário de 2 meses e nenhum quilo a menos. Minha endócrino (leia-se: médica endocrinologista) já me disse infinitas vezes que não tem como essa cirurgia ter dado errado, porque eu simplesmente não tenho como produzir mais cortisol.

Vamos às explicações: eu tenho um tumor hipofisário, no cérebro, e esse tumor produz ACTH em excesso. Esse ACTH é um hormônio que comanda a produção de outros hormônios, entre eles o cortisol. O cortisol é produzido SOMENTE nas glândulas suprarrenais (que é a mesma coisa que 'adrenais'). O ACTH em excesso mandava minhas adrenais produzirem muito cortisol, por isso eu tinha o cushing. Fiz várias cirurgias na hipófise pra tentar tirar o tumor, mas não deram certo, porque o tumor é tão ínfimo que não dava pra ver na minha hipófise mais ínfima ainda. Os médicos não quiseram retirar minha hipófise porque ela comanda a produção de vários outros hormônios, e isso me prejudicaria em muitas outras coisas, eu teria que repor todos os hormônios que o ser humano precisa pra ter uma vida saudável (e não são poucos). Então a opção foi retirar as adrenais que produziam cortisol, pois assim o ACTH não teria mais onde mandar, então não importa se ele está em excesso porque eu não teria como produzir mais cortisol (que era o que me fazia mal). Por esse motivo os exames de ACTH agora tem valores elevados, contrastando com os exames de cortisol (que devem ser) baixos. [eu ainda não sei o valor do meu cortisol, porque o resultado não saiu, mas com certeza deve estar baixo, porque meu ACTH tá bem alto]  

Cheguei na consulta, a médica me pergunta sobre tonturas, náuseas, perda de apetite, de peso e todas aquelas coisas que não aconteceram comigo... eu não tinha o que falar, ela não sabia porque não tinha acontecido e me perguntou se eu tinha certeza que meu remédio era de 5mg e se na farmácia não tinham dado 20mg enganado... Eu disse que tinha certeza (mas quando cheguei em casa fui conferir de novo, era 5mg mesmo, não sei se fiquei feliz ou triste). Aí ela me fala sobre uma paciente que fez cirurgia também há pouco tempo mas que já emagreceu 30kg e ela teve que aumentar a dose de cortisol porque a paciente passava muito mal. Imaginem minha decepção. Não que eu quisesse passar mal, muito menos emagrecer 30kg (porque se eu emagrecer tudo isso eu desapareço), mas aqui estou eu, sem saber se minhas reações são normais, se essa minha falta de concentração, meu sono desregulado, meu apetite normal, meu não-emagrecimento, e todas minhas pseudo-queixas são simplesmente uma reação diferente porque cada organismo é de um jeito, ou se eu tenho algum problema não catalogado ainda pela medicina.

Ah! E o ACTH alto não me prejudica em nada, pelo que a médica disse a única coisa que pode acontecer é o tumor crescer, mas como (acho que eu já disse isso) ele é minúsculo isso não tem problema, porque aí ele vai aparecer e aí é mais fácil fazer cirurgia pra tirar (sim, eu teria que fazer OUTRA cirurgia na hipófise), mas dizem que leva tempo, uns dez anos, ou mais (ou menos, sei lá).

Ah! [2] A única coisa que eu vi uma "mudancinha" foi meu rosto, tá afinando um pouquiiiiiiinho. Eu só fui notar porque parei pra ver fotos e comparar as datas, se não fosse isso eu ia jurar que tô a mesma coisa (porque nunca medi meu rosto com fita métrica, né). Pra não dizer que tô mentindo, vejam com seus próprios olhos clicando aqui.

Ah! [3] Uma informação inútil, mas que TODO mundo me questionava: sim, eu posso ingerir bebida alcoólica! Passei dois meses achando que não, porque eu li na bula da prednisona que não poderia e quando eu mencionava isso pra alguém... AQUELA cara de espanto surgia no rosto de quem quer que fosse, teve gente que me disse "ai, coitada! não pode beber? não queria tá na tua pele!" HELLO, PEOPLE! Eu tinha cushing! Eu tinha pressão alta, cansaço, estrias... TÔ GORDA por culpa do cushing! Beber é o de menos. Nunca fui muito disso mesmo (quando eu achava que não podia beber a minha vontade aumentou 200%, até porque antes eu nem tinha vontade... aquela história de que "o proibido é mais gostoso")
Bom, mas caso eu queira afogar minhas mágoas na bebida, pelo menos eu sei que não vai cortar o efeito do remédio.

Enfim, quer dizer, não tem fim nenhum, eu ainda vivo uma grande incógnita, porque nem sei direito que reações do meu organismo (ou falta delas) vem "a seguir"... daí eu fico naquela...

"Será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho..."

sexta-feira, 20 de julho de 2012

agora é oficial: vou mudar! (ou, mudei?)

Essa história de "vou mudar" parece coisa de promessa de fim de ano (que a gente nunca cumpre), mas não é.
Até porque estamos no meio do ano e aí teria que ser "promessa de meio de ano" e isso não encaixa. Aliás, "em caixa" é o que resume bem essa "história de mudança".... Sim! É isso mesmo! Estou de mudança. Tá, eu já falei isso. Sim, eu tô um pouco nervosa, e é por isso que estou "gaguejando".
É difícil mudar, sabia?
Depois de passar por (mais) uma cirurgia contra o cushing, depois de quase um mês eu já esperava estar uma garota calma e serena... Quem esperava (assim como eu, por um milagre) uma pessoa meiga e djugo djugo, esqueça. Não tô falando pra decepcionar ninguém e nem pra fazer draminha, mas é que eu não vi/senti nenhuma mudança de humor (pra melhor) depois da cirurgia e é melhor não iludir ninguém, né?
No pós-operatório eu saí do hospital ainda com o dobro da dose de cortisol que estou tomando agora, (eu estava com 15mg - dois comprimidos pela manhã e um à noite - e agora estou com 7mg - um comprimido pela manhã e meio comprimido à noite) eu imaginava que ainda estava inchada e "irritada" por isso... mas sejamos realistas, quem consegue imaginar Rafaella Machado, na atual conjuntura, uma pessoa sossegada e em paz com o mundo? Eu não consigo... mas assim... eu tô tentando, juro.
Quem lê deve pensar "tá, então para de tomar esse veneno de uma vez!". Não, galerinha querida, eu não posso "Não ter cortisol", ninguém pode! Já me disseram que se eu ficar 3 dias sem tomar o remédio é caixão! ui, deuzolivre.
Ando meio deprê, não tô engraçada, não tô produtiva e nem tenho tragicomédias pra contar. Li em algum lugar que "insuficiência adrenal" pode causar "astenia", que seria "uma sensação generalizada de debilidade e falta de vitalidade, que se sente tanto a nível físico como intelectual, e que afecta a capacidade de trabalhar ou realizar tarefas simples. Não melhora com o descanso. (...) Estado geral alterado, fadiga muscular, problemas de concentração e de sono (...)." Dentre outras coisinhas mais... mas acho que eu não tenho isso, meu problema deve ser uma grande preguiça sem cura, que não me deixa fazer nada produtivo. Inclusive escrever. Aliás, este post eu comecei no dia 06 de julho e olha só, hoje é dia 19.
No dia do começo do post eu estava arrumando a mudança, agora já mudei (de casa). Minha intenção inicial era escrever alguma coisa meio ambígua e tal, querendo "anunciar minha mudança", como se fosse uma mudança dupla, de moradia e de comportamento...
Digamos que até que posso continuar dizendo que aconteceu "alguma coisa dupla". Eu ainda não sinto que mudei de casa e também não sinto que mudei de comportamento (continuo reclamona e todas aquelas coisas que todo mundo sabe).
Tô a cada dia mais manteiga derretida, mas acho que isso não é uma mudança, é só tipo um "level" a mais de choradeira.
Não sei mais o que eu já falei ou o que eu queria falar aqui, ando tão distraída que na verdade nem tenho muita vontade de falar alguma coisa... mas aí fico assim, falando e falando e falando e nada tem muito sentido ou parece ser conveniente... é... e como é de graça aí eu continuo...

Pra deixar as coisas mais claras... não, eu não fiz mais uma cirurgia em vão, porque, segundo minha médica: "Tens que pensar que esta cirurgia tem 100% de acerto". Essa foi a resposta que ela me deu a um email em que eu descrevia minha revolta por não sentir mudanças... A questão é que me fizeram propaganda enganosa dessa cirurgia. Me disseram que eu sairia de lá passando mal, com náuseas, tontura, perda (quase total) de apetite e mais um monte de coisas de doente. Eu saí muito bem do hospital, apesar da minha falta de vontade de fazer qualquer coisa, não passei mal nenhuma vez... aí eu penso "será que eu sou uma aberração e meu organismo reage de maneira diferente e jamais vista pelos médicos? será que eu sou assim tão forte que não preciso da dose recomendada a maioria dos portadores de insuficiência adrenal? será que eu sou a versão feminina do Hulk?"
A parte da versão feminina do Hulk explicaria bastante coisa (exceto o detalhe que eu nunca fiquei verde, mas roxa já fiquei e MUITO e com bastante facilidade!)

Relendo o parágrafo inicial, que eu não escrevi hoje, não ficou muito claro porque eu falei em mudança (de moradia) e que é difícil... Geralmente se a gente se muda pra uma casa melhor e tal nem é tão difícil, a questão é que eu me mudei sozinha, eu saí da casa dos meus pais, vim morar perto da universidade.
E aí me perguntam "mas por que, diabos, tu se mudou?" "se tu mora na mesma cidade, se tu tens tudo em casa, se tu se dá super bem com teus pais e irmãos, se tu tem tudo que tu queres em casa, se tu não precisas se mudar, se tu tens tudo, se tu não precisas, se tu tens tudo, se tu não precisas, se tu tens tudo (...)"
Não, eu não repeti porque eu fiquei completamente maluca (será?) é porque é isso que reverbera na minha cabeça... Foi difícil vir pra cá, mesmo sabendo que é só pegar um ônibus e já tô em casa de novo, quer dizer, na casa dos meus pais... uma vizinha minha (não de agora, de antes) me viu chorando e perguntou se eu ia pra Bahia ou pra outro país...
Quando eu era mais nova, antes de todas essas aventuras cushingnianas, eu "sonhava" em morar sozinha, perto da faculdade e tal... agora eu já nem sonhava mais. Mas sempre quis ser "independente". Eu não me mudava porque não tinha condições financeiras pra me manter sozinha. Agora eu "tenho", aí sabem o que eu descobri?
Descobri que dependência emocional é muito mais pior de horrível de sofrimento que dependência financeira.
A gente vive pensando em objetivos de vida. Eu, enquanto fazia trocentas cirurgias, vivia pensando que queria me livrar do cushing, em tese eu já me livrei, mas ainda não tô satisfeita, porque ele deixou vestígios que não me deixam esquecer que esteve em mim. Agora eu tenho outros objetivos, que é me livrar desses vestígios, enquanto isso continuo insatisfeita. Mas eu me pergunto, quando eu estive satisfeita? Acho que a gente não deve estar satisfeito nunca com o que temos, senão a gente nem tenta mudar. Mudar é bom, é o que faz a nossa vida ter objetivos é o que faz a gente querer viver. Eu digo que não vejo mudança em certas coisas, mas na verdade é porque eu ainda preciso de mudanças, porque eu ainda preciso ver muita coisa nessa vida...
Acho que a única coisa que a gente DEVE estar e ser satisfeito é com as pessoas que estão do nosso lado enquanto vamos atrás dos nossos objetivos. E isso eu não estou satisfeita.
Eu SOU satisfeita. Porque "ser" é muito mais forte que "estar". E não digo que as pessoas "estão ao meu lado", porque as pessoas que me fazem bem, que fazem parte de mim, elas me fazem "ser". Eu sou o que eu sou pelas pessoas que fazem parte da minha vida. E sempre vão fazer.

A gente sempre dá sentido às coisas conforme o momento que estamos passando. Não costumo postar imagens aqui, mas me mandaram essa e eu achei que se encaixava com essa história...


... meio deprê e monótono esse post, mas eu tô "em fase de Mudança", desejem-me sorte.

p.s. acho que eu escrevo "e tal" demais, mas enfim...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

sexta-feira, 15 de junho de 2012

adrenalectomia videolaparoscópica bilateral

Toda vez que eu saio de uma cirurgia fico pensando num título apropriado e estou num clima meio autoajuda. Dessa vez eu não tô nesse clima e nem quero pensar num título muito criativo.
Sim, fiz outra cirurgia, a adrenalectomia videolaparoscópica bilateral, traduzindo: tirei as duas glândulas suprarrenais. Agora não produzo mais nadinha de cortisol.
Essa cirurgia foi a última etapa contra o cushing, agora tenho que andar com uma pulseirinha dizendo que eu tenho "Insuficiência adrenal", porque em qualquer situação de estresse eu preciso tomar dose extra de cortisol em comprimido.
Não fiz muito alarde em redes sociais dessa vez, mas como eu não aguento, preciso "colocar pra fora".

Fiquei no Hospital Baía Sul, um dos mais caros de Florianópolis. Bela fachada. De todos os que eu passei, foi o mais despreparado. A cirurgia ocorreu tudo bem, os médicos - que são contratados pelos pacientes e não têm relação direta nenhuma com o hospital - foram ótimos e competentes.
Depois de ter sido diagnosticado o cushing e depois de eu ter passado por tantos médicos, ficamos (eu e o pessoal aqui de casa) calejados de procurar médicos com boas referências. Se tem uma coisa que eu aprendi foi: referência é essencial em tudo na vida.
Esse hospital nós não tínhamos referência, mas o médico (urologista, indicado pela minha endócrino, que eu confio 100%) operava lá e optou por esse por ser mais "Novo" e ter menos riscos de infecção e etc... Tudo bem, menos riscos de infecção por ter menos pacientes, mas em compensação também tem menos preparo e mais descaso.
Minha mãe foi colocar o carregador do celular na tomada, o espelho da tomada caiu. Fomos ligar o ar condicionado porque a janela não abria e tinha uma reforma no prédio do lado e a batição e o barulho eram significativos, aí o botão caiu e não ligou. Pedimos uma toalha de banho à noite, no outro dia de manhã pedimos de novo e a resposta foi "temos uma briga constante com a rouparia" (detalhe: a toalha não veio!)
Daí eu pergunto: como assim isso é um hospital caro? Cadê os gestores desse lugar?

A cirurgia foi na terça-feira, fui direto para a UTI e passei menos de 24 horas.
Mas... aquelas coisas de UTI, impossível dormir, morrendo de dor, aí, pra melhorar: enfermeiros que pensam que só porque estamos imóveis nós somos bonecos e ficam falando alto e fazendo palhaçada como se não tivesse ninguém ali.

Pausa para descrever a cirurgia:
As adrenais são glândulas que ficam próximas dos rins, pra retirada delas (no método por video) foi necessário fazer 5 furos na minha barriga. Um acima do umbigo, um abaixo do seio direito, um entre os seios, um abaixo do seio esquerdo e outro um pouco mais pra baixo do lado esquerdo. Eu não quis perguntar muitos detalhes e preferi saber só do principal, porque já tô cansada de procedimentos cirúrgicos e tudo o mais... o que eu sei é que dentro de um desses furos (do lado esquerdo embaixo do seio, que deve ter uns 2 ou 3 centímetros) foi inserido um tubo pra colocar gás dentro da minha barriga! Esse gás servia pra visualizar melhor os órgãos dentro de mim - pra "separar" os órgãos, dar uma distância pro médico poder mexer, ou algo do tipo - e também pra poder fazer o procedimento com a câmera e tudo o mais... ou seja, minha barriga foi inflada. Nem preciso dizer que esse gás me deixou pior que um baiacu, né?

Pois é, em tese, cirurgia na cabeça é mais perigosa, todo mundo fica apavorado se sabe que fiz cirurgia "no cérebro". Mas, sinceramente? Acho que essa foi bem mais dolorosa. Claro que eu estava sob efeito de anestesia geral, mas a recuperação, por ter cortes e detalhes do tipo, é mais chatinha... Me senti mais inútil que da outra vez, porque até pra levantar da cama precisava de ajuda. Imaginem uma barata de barriga pra cima que fica se debatendo tentando se virar e não consegue. É mais ou menos isso. Ainda tô toda dolorida, com curativos, não durmo desde terça-feira, pareço um zumbi e ainda tô com uma marca roxa que parece que levei uma pá nas costas. E só porque eu não consigo nem rir, porque minha barriga dói horrores, daí tô achando graça em qualquer babaquice que falam aqui em casa. (não é bem "qualquer", mas, dá pra entender, né?)

Como eu sei que o pessoal gosta de ler coisas trágicas, preciso contar uma parte sangrenta - literalmente. Quando eu já tinha saído da UTI, estava no quarto, cheia de fios e soro e aquela coisa toda. Mas o acesso que eu tinha pro soro e pra medicação já estava há muito tempo e precisava ser trocado. Ok. Nunca tive problema pra "ser furada", já tô craque... mas, as queridas em treinamento que tentaram pegar minha veia não estavam craque. Uma tentando e a outra olhando, reclamou mil vezes e fez brincadeirinhas dizendo que deixei as veias em casa e blablabla e eu fingindo que tudo estava bem e percebi que ela tava nervosa, então melhor nem falar nada pra não piorar a situação. Primeira tentativa: minha mão, aí a querida número 1 pede pra querida número 2 abrir o soro, começa a correr e minha mão a inchar, ou seja, tava fora da veia. Nem falei nada. Minha mãe só disse: tá inchando, tá fora, tira isso aí. Querida número 1 tirou e foi atrás de outra veia, ficou batendo no meu braço inteiro e apertou tanto com um garrote que tava quase decepando meu pulso, aí eu falei: tô vendo e sentindo pulsar aqui ó (apontei com o dedo), ela concordou disse que era ótima e que ia conseguir e ficou tagarelando, aí furou, pedi pra tirar o garrote (porque já não precisava mais, já que ela já tinha furado e meu braço já tava doendo, claro que não falei nada disso, só pensei), ela tirou e pediu pra querida número 2 abrir o soro de novo, aí ela abriu, aí minha veia começou a escorrer muito sangue e não deixou o soro correr, aí as duas arregalaram os olhos e pegaram uma toalha de rosto pra tentar estancar o sangue que não parava, a toalha ficou completamente manchada de vermelho. Eu só respirei fundo e falei "posso tomar banho primeiro? depois vocês tentam de novo". Por dentro eu queria arrancar a cabeça delas, mas deixar mais nervosa as pessoas que vão te furar não é uma boa estratégia. Aí ok. Depois tomei banho e tudo o mais, as duas foram chamar a enfermeira chefe pra tentar, pela terceira vez. Deitei na cama, olhei pro outro lado e respirei fundo. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH, PARA, CACETE, PELO AMOR DE DEUS, NÃO TÔ SENTINDO MEU DEDO! POR FAVOR, EU TOMO OS REMÉDIOS EM COMPRIMIDO!
É, a querida número 3 furou alguma coisa que não era pra ter furado e meus dedos das mãos começaram a se contorcer e eu não estava conseguindo movimentar voluntariamente e doeu tanto que eu xinguei até a última geração da família dela. Pedi desculpas depois, lógico. Mas... só pra me deixar bem mais calma, ela pergunta pras outras duas "qual era a medicação que ela precisava tomar intravenosa agora?" As duas respondem "não sei, vou olhar no prontuário", aí elas voltam e dizem "ela não tem mais medicação", aí ela pergunta de novo "e por que vocês estavam tentando acesso nela?" As duas ficaram se olhando e não sabiam responder!
Ótima situação, heim? Daí ainda dizem que eu não tenho paciência.

Não dá ainda pra todos ficarem felizes porque era pra eu estar mais calma, porque não produzo mais cortisol extra e etc. Na verdade ainda tô com muito cortisol, porque tô tomando uma dose muito alta no pós-operatório.
Enfim, a luta contra o cushing acabou! A nova luta agora é uma surpresa pra mim! (e pra todo mundo que me conhece e está ao meu redor, logicamente)


Bom, acho que chega, não tô muito inspirada e essa dor nas costas e na barriga tá me impossibilitando de me deixar mais tempo na frente do computador.


A cirurgia deu certo, vim pra casa hoje, já consigo levantar sozinha, mas olha... quero distância de cirurgia e hospital por um longo longo longo longo longo tempo!

Espero em breve dizer que tô mais calma e menos chata...
embora eu ache que isso não tinha tanto a ver com cushing e lamento decepcioná-los e confessar assim...

-------------
Post atualizado em 26 de setembro de 2013:
Apenas um adendo, sobre o Hospital Baía Sul. Meses depois da minha cirurgia, minha mãe fez uma cirurgia lá, a experiência dela foi outra completamente diferente, mas o caso é: ela fala muito bem do tratamento que teve e as instalações do hospital haviam melhorado bastante. Meu irmão também fez uma cirurgia lá e eu já fiz outros procedimentos lá depois disso, todos ótimos, sem reclamações. Então, não julguem o Hospital por esse post, cada um pode ter experiências diferentes (até eu mesma, em outro momento!). Meu objetivo aqui não era fazer propaganda contra (absolutamente!!!), mas apenas relatar o meu "momento" e a maneira como eu via a situação na época. Hoje estou bem e essa cirurgia foi a definitiva, que me curou finalmente. (como pode ser visto nos posts posteriores) Enfim, fica aqui a consideração. (:

quinta-feira, 7 de junho de 2012

terça-feira, 22 de maio de 2012

wiki é que você (e eu) tem a ver com isso?

O ato da escritura sempre pressupõe uma interação, entre o que sai da nossa cabeça (da minha, no caso), com a lingua(gem) que a gente usa e as coisas que a pessoa que ler já tiver na cabeça...

Escrever no blog é uma coisa um pouco complexa porque a gente não sabe quem vai ler, então não sabe se a pessoa têm coisas na cabeça que vão proporcionar a interação que a gente deseja...

Mas eu não me importo muito com isso, porque não estou sendo avaliada e não tenho um propósito muito definido aqui mesmo... mas claro que a gente sempre tem um propósito quando expõe alguma coisa, tudo que a gente "põe pra fora" tem um motivo (mesmo que a gente não tenha consciência, Freud explica, ou não).

Eu já percebi que os posts que mais tenho visualizações são os que eu descrevo situações dramáticas, misturadas com alguma pontinha de tragicomédia ou alguma observação aleatória que eu faço sobre um fato cotidiano, mas quando eu fico assim, divagando, geralmente os posts não têm muitas visualizações... por que?

Consequência da interação, óbvio. Primeiro porque divagações sem pé nem cabeça as pessoas não vão estabelecer relações e aí não vai ser interessante, porque a gente sempre procura alguma relação, pra poder interagir.

Eis que se conclui que a palavra da moda é: INTERAÇÃO.

Nas aulas do mestrado em Educação essa palavra é mencionada o tempo inteiro, às vezes eu nem quero interagir porque fico com dor de cabeça de tanta interação! Mas não tem como fugir, estamos em meio a interações sociais, por meio de relações, redes... Tanto é que estou aqui interagindo com o meu computador e, pela internet, ao mesmo tempo, com várias pessoas, no momento em que eu clicar em "publicar postagem" tudo que eu "coloquei pra fora" estará disponível para mais interação...

Como estou num processo "dissertativo" da minha vida - tudo gira em torno da minha dissertação de mestrado - eu só penso nisso, só falo disso, só respiro isso... então pode ser que eu não esteja muito interessante, aí deixo o blog às moscas, até porque eu não tenho nenhuma notícia sobre o cushing e consultas médicas (que é o que mais dá ibope aqui!).

Só que às vezes a gente tem necessidade de parar e pensar no que está fazendo, e eu penso escrevendo.

Eu fico pensando no tema do meu trabalho, pra que aquilo vai servir, se vai contribuir com a sociedade, se o que eu escrevo tem relevância, se eu vou mudar alguma coisa no mundo, ou se eu sou só mais uma reclamona...

Mais uma vez me peguei pensando nas facilidades da internet e na genialidade dessa ferramenta... numa de minhas aulas surgiu uma discussão sobre os grandes pensadores e teóricos da história, que nós temos que ter conhecimento pra, a partir deles, fazer novas descobertas - e não apenas inventar a roda novamente - e aí a grande questão: nós estudamos muitos pensadores, filósofos da antiguidade etc e tal, mas e nós? Quem somos? Onde estão os gênios? Que legado a nossa era vai deixar pras próximas gerações? O mais comum dos discursos é aquela suposta nostalgia de "antes as pessoas lutavam por mudanças, revolução, conhecimentos" e agora?

Posso estar viajando, mas eu acho que os grandes gênios da "nossa era" são os Steve Jobs e Mark Zuckemberg's da vida! (não me vem à cabeça nenhum outro nome famoso ligado a essas áreas, tipo o criador da Microsoft ou de algum outro sistema operacional, ou algum programador que fez alguma coisa que eu provavelmente utilizo e não faço nem ideia, porque eu não sou uma sumidade da nerdice e porque eu não estudei eles na aula de história... mas quem sabe eles não estarão nos livros - ou disponíveis na web, para consulta em tablets didáticos, ou seja lá o que for - daqui uns anos?)

A expressão da moda não é "interação social"?

Pra que melhor exemplo que uma rede social na web?

As épocas são marcadas por "novos termos", "novos conceitos", "novas expressões".

Às vezes apenas o entendimento de uma expressão é o que muda todas as atitudes de uma sociedade.

A invenção do termo "web 2.0" (pra diferenciar de apenas "web", como se alguém chamasse de "web 1.0", mas tudo bem... é tipo falar da "pós-modernidade", só foi denominada assim porque existiu a modernidade, mas na verdade quem determinou que a modernidade acabou? tá, mas isso é outra história....) pra denominar a mudança das tecnologias, que permitem a interação dos usuários... No caso de "wikis" (sim, tipo a wikipedia!), por exemplo, um site antigamente era feito por programadores e os usuários utilizavam de forma estática o que era colocado lá, agora, com a possibilidade de interação, os próprios usuários podem atualizar informações das páginas que acessam, podem fazer um rebuliço, uma espécie de permissão pra construir nova informação (resumindo: wikipedia = enciclopédia dinâmica).

A interação é instantânea, os compartilhamentos, as reações, as repercussões... vivemos sob o poder de um click! Isso é genial!

Minha dissertação não tem nada a ver com o tema "internet" ou "redes sociais", mas como eu passo a maior parte do dia no computador digitando, navegando, lendo, compartilhando angústias e etc, eu não tenho como não estabelecer relações com a minha realidade.

Que realidade? A da interação!

A partir do momento que leio o Bakhtin lá na sala do mestrado, que diz que nossos discursos sempre serão "infectados" por outros discursos, que ninguém NUNCA falou uma coisa que não foi falada antes, que nós somos constituídos por várias falas que nos precederam - e nem nos damos conta - e que nós interagimos com os discursos que estão em nossa volta e blablabla whiskas sachet... o que eu vejo? Que a internet é isso. Compartilhamentos de discursos, muitas vezes nem sabemos de onde vem, mas nos identificamos e tomamos aquele discurso como nosso, absorvemos, reconstruímos e "colocamos pra fora".

Essa busca por identificação e a necessidade de compartilhar é o que faz de nós seres humanos. E geralmente nos identificamos com as angústias dos outros, com emoções, com qualquer coisa que nos faça lembrar que somos humanos.

Li um artigo esses dias, (desses que foram compartilhados por tanta gente que a gente já nem se lembra onde leu e de quem era - ótimo exemplo bakhtiniano do famoso discurso perpassado por outros discursos que a gente não sabe mais nem a origem) que falava sobre a inteligência e sobre quem determina os níveis de inteligência das pessoas, aí citava o exemplo da pessoa considerada muito inteligente, mas quando ela precisava que arrumassem o seu carro ela recorria a um mecânico e aí fica a questão: quem é mais inteligente nessa situação?

Sem entrar no mérito de diferenciação entre termos, (inteligência ou conhecimento ou capacidade) a questão é: por que aquela "pessoa inteligente" foi buscar ajuda de outra pessoa pra consertar seu carro? Porque essa outra pessoa teve a oportunidade de interagir com discursos que indicaram a maneira certa de consertar o carro!

Interagiu, consertou, ok, acabaram-se os problemas. Não! Outros problemas vão surgir, que vão necessitar de novas interações... e assim sucessivamente.

Aí vêm aquele outro assunto polêmico da internet: exposição. Exposição de problemas, compartilhamento de problemas, bla bla bla problemas... salvem os psicólogos, terapeutas e psicanalistas! Quem mais precisará deles se sua metodologia de resolução de problemas por meio da linguagem (sessões de terapia, contando neuras ou felicidades ou angústias ou qualquer coisa) pode ser substituída por narrativas em redes sociais, blogs, mídia, etc?

Os próprios leitores dão conselhos, ou xingam, ou elogiam... e a resposta é mais rápida!

Essa era da interatividade faz de todos profissionais em qualquer área. Todos se sentem aptos a opinarem em qualquer área, educação, linguagem, psicologia... afinal, somos humanos, Ciências Humanas é nossa especialidade, certo? Não.

Cada um estuda e tem mais aptidão para lidar com determinado assunto. Isso quer dizer que não é qualquer um que possa opinar sobre qualquer coisa, ainda mais acreditando que seu discurso é único e verdadeiro, desconsiderando o que outras pessoas já falaram e pesquisaram sobre o assunto.

"Ah! Mas eu não estudo ciências humanas, minha área é exatas" Ah, sim, e você faz todas as suas pesquisas pra que mesmo? Pra se trancar no armário e nunca compartilhar com nenhum outro ser humano porque você nunca vai interagir com ninguém de nenhuma forma, né? Precisamos ser lembrados que somos humanos.

Acho que ser humano é essa constante tentativa de não esquecer que somos humanos. Deve ser por isso que atribui-se à interação social a resolução dos problemas ("problemas", no sentido mais amplo do termo, porque ultimamente é tudo assim, relativamente falando).

Eu não resolvi meus problemas. Pensar numa coisa óbvia: "somos seres sociais, interagimos socialmente e devemos interagir com outros seres sociais" pra mim não resolve nada.

Mas se eu quisesse resolver talvez eu teria procurado um psicólogo, ao invés de vir escrever no blog, não? Daí vem a questão: será que eu quero mesmo resolver problemas?

Daí me falam (e todos os pós-graduandos já ouviram isso) "ainda bem que tens tempo pra pensar nisso tudo e não trabalhas, né?" e eu respondo mentalmente "imagina se eu NÃO trabalhasse, né?" porque eu só penso nisso tudo porque fico com a mente trabalhando o tempo inteiro... e como eu disse, eu penso escrevendo e, é claro, escrevo pensando.

E se eu resolver todos (meus) problemas, vou escrever sobre o que, né?

Quem sabe no meu próximo post eu resolva um problema e escreva sobre adrenalectomia videolaparoscópica... mas o que é que você, ou, alguém tem a ver com isso tudo? não sei, culpem a interação.

p.s. aqui ainda estou na web 1.0 e não libero os comentários! mwahaha

sexta-feira, 27 de abril de 2012

sou manezinha e com muito orgulho, ixtePaul!

Quando acordei no dia 25 de abril - que não era de 1985, mas sim - de 2012, eu me preparava para um inesquecível day in the life!
Pela manhã - chovendo bastante - I've gotta a feeling que o trânsito estaria caótico. Ficava olhando pela janela e pensando "alguém can drive my car, eu chegaria mais rápido", mas não, fui de ônibus para a faculdade, como todos os outros dias.
No caminho, a fila era a habitual, fiquei pensando nos afazeres da universidade, nas crises da pós-graduação e até em ser uma Paperback writer...
Finalmente cheguei na UFSC, na reunião com a orientadora do mestrado e I saw her standing there, esperando pra começar a me passar "tarefas de organização pós-evento de literatura".
Esse evento foi um seminário de literatura infantil e juvenil, que foi divulgado inicialmente pela internet (por mim!) e teve uma repercussão tão grande que tivemos que encerrar as inscrições antes do prazo previsto, pois a procura foi maior que a esperada. Tinham inscrições de todos os lugares do Brasil (e em princípio eu imaginava que seriam só os próprios alunos da UFSC!). A responsabilidade crescia, porque, querendo ou não, quando algo tem visibilidade um pouco maior, a gente sente que tem que superar expectativas e não apenas "satisfazer".
Passado o evento deu tudo certo, mas ainda temos muito o que fazer e sabemos que precisamos de muita coisa pra melhorar, mesmo com os infinitos elogios. Ainda discuti com minhas colegas sobre as coisas que os participantes do evento criticam e não sabem a trabalheira que é "estar por trás das cortinas". Temos que pensar em tudo que pode acontecer e, principalmente, no que não pode acontecer de jeito nenhum!
Acabou a reunião, fui pra casa... Chegando em casa eu já podia parar de pensar em dissertação e certificados do seminário e podia começar a pensar em me preparar pra Magical Mystery Tour! Sim! Pra quem ainda não entendeu, pela primeira vez na história um beatle tocaria (e tocou!) em Florianópolis!
E será que não poderia ser mais especial do que o Sir Paul McCartney!?
Não encontrei explicações pra esse fenômeno, uma espécie de adoração momentânea compartilhada por um número interminável de pessoas (como se eu tivesse encontrado explicação pra algum fenômeno! mas enfim... what's the use of anything?).
Lembro de eu sempre falar "ah, eu não sou fanática por nada, acho que nunca ficaria esperando nessas filas desde cedo pra comprar um ingresso, ou coisas relacionadas", mas a primeira vez que ouvi rumores que o ex-beatle vinha pra minha cidade eu pensei "isso é histórico, eu não posso perder!" E ainda tem um detalhe muito "djugo djugo", uma música dele faz parte da minha história. Meus pais casaram com words of wisdom sendo pronunciadas até o momento do 'SIM' definitivo. Anos mais tarde, no Birthay de meu irmão, eu e o Junior (que não tem uma fazenda) escrevemos esse refrão em nossa pele - ambos fizemos a mesma tatuagem, em homenagem aos nossos pais e à clássica canção beatleniana, escrita por Paul.
Essa admiração por um ícone é cultural. Os Beatles fazem parte da nossa cultura. Quando pensei em Paul, pensei "vou deixar passar a oportunidade de contar pros meus netos que fui num show de uma lenda viva (lenda viva Here today, né) da década de 1960?"
Vou poder passar minha experiência vivida pros meus netos e eles vão adquirir a experiência narrada, isso é lindo (ou, isso é teoria literária!), seria como se o tiozinho do submarino tivesse contando suas histórias e sentíssemos como se we all live in a yellow submarine.
Há quem diga que a antiga geração era melhor, há quem defenda que as coisas novas são melhores, eu digo que não existiríamos se não fosse o passado. Não somos quem somos se outras pessoas não tivessem nos ensinado o que sabemos (tanto para reproduzir ou para transformar). Paul foi um dos pioneiros na sua época, faz parte da história, é um clássico, atravessa os tempos e ninguém consegue Carry that weight como ele. Por isso, independente de gostar da música ou não, as pessoas tem que saber quem ele foi, isso é história. Se, por exemplo, alguém fosse fazer um carro e não soubesse que já inventaram a roda, essa pessoa perderia um tempão com isso e perderia a oportunidade de fazer uma nova descoberta, algo que aprimorasse a "antiga roda"... Com os Beatles (e com qualquer coisa na história humana) é mais ou menos por aí. Ver (e ouvir, principalmente!) um beatle é uma experiência emocionante pra quem vivencia, porque o ser humano quer "fazer parte da história".
Clássico é clássico. E isso não é tautológico, esses devaneios não são só Ob-la-di ob-la-da, Ítalo Calvino me entenderia...
Enfim, agora chega a parte de falar sobre the Night before (no caso, a noite do show!)
O "Portal" que nos levaria (eu, amigos e meu irmão) até nossos Golden slumbers, ironicamente ou não, era o vão entre a porta do banheiro feminino e o banheiro masculino do terminal central de ônibus. Começava nossa jornada com alguns "sinais"... Entramos em nosso meio de locomoção, todos em pé, na expectativa, e em cada parada, tentávamos descobrir se as placas de "Estasionamento" eram do pessoal "credenciado" da organização do show. Maybe I'm amazed, achei que o trânsito estava fluindo muito bem, a pista só para ônibus funcionou maravilhosamente.
Chegamos em nosso destino, estádio da Ressacada (que é só apelido, mas eu não sei o nome original, porque... porque eu não sei.), mais uma (?) fila (se é que poderíamos chamar aquilo de UMA fila). Mal sabíamos que aquela seria só uma prévia do que estava por vir. Sentamos no chão, tempo bom, tinha parado de chover, mas olhamos pro céu e um BlackBird voava (para alguma direção que eu não sei qual era) e meu irmão, manezinho que é, concluiu que ventaria bastante mais tarde. Abrem-se os portões, chegou a hora de entrarmos, aquela fila toda sentada se levanta, aquela lerdesa toda. Todo mundo preocupado com os pacotes de bolacha e com as garrafas de água que tínhamos na bolsa, que seriam jogados fora na hora da revista, esperamos chegar nos portões e... TCHANAN! Não houve revista! Não pediram documento, nem passaram detector de metais e nós simplesmente entramos! (pensando: e aquela "rigorosidade" toda que afirmaram que aconteceria e por isso meio mundo não pôde comprar meia-entrada e talvez por isso - e por mais um monte de coisas - não esgotaram os ingressos?)
Passada a aventura para entrar, só mais algumas horinhas de espera pro início do show... então, em sua pontualidade britânica, às 21h30: "Oi, manezinhox". E assim se iniciava a histeria coletiva!
Cada música acompanhada por muitos gritos e muitas lágrimas, até quem jurava de pés juntos que nunca choraria em shows musicais foi tomado por something sem explicação e deixou a emoção comandar! Ouvir "na na na, hey Jude" em coro arrepiou a multidão! Paul "se enturmando" e incentivando os manezinhos a cantarem junto, com seu vocativo "Ixtepôu", arrombou!
Toda vez que penso que essa multidão que estava lá com um único propósito, se se juntasse SEMPRE em coro pra falar coisas boas seria tudo tão lindo! Continuo me arrepiando.
Gritei aquecida com os fogos em "Live and let die", gaguejei cantando alucinadamente "léribiiiiii" e me afoguei no choro olhando pro lado vendo meu irmão secando os olhos... naquelas horas todos estavam doloridos, encharcados, mas ninguém pensava nisso porque a energia era tão boa que não tinha porque se deixar abater, era só "Let it be"!
Ainda sou jovem e meu coração um livro aberto, acho que por isso cada momento do show foi significativo e escreveu alguma palavrinha na minha história.
Mas aquela magia toda tinha que ter um The end... e teve.
A fila no final do show era The Long and winding road... após todos aqueles encantamentos do Sir Paul, vinha a realidade da Sra. Fila que enfrentamos para sair do estádio - que eu relacionei o apelido de Ressacada por deixar as pessoas de ressaca, mesmo sem terem consumido bebida alcoólica. - Foi um pesadelo: uma saída, (quase) 30 mil pessoas, muita chuva, crianças, idosos, cansaço, frio e o fim de um momento de encantamento. Entramos na fila sem saber pra onde iríamos, todos deveriam pegar os ônibus que estavam aguardando seus passageiros. A ideia era genial, mas a prática não foi.
O labirinto era feito de cavaletes de metal que davam voltas quilométricas e desnecessárias, a imagem lembrava campos de concentração da segunda guerra, garanto que nesse caso ninguém gostaria de estar Back in the USSR, várias pessoas caminhando sem saber para onde, sofrendo, sem poder fazer nada para mudar. Os ônibus saíam um a um e as pessoas (tanto os fãs quanto os trabalhadores do evento) já estavam exaustas, todos queriam ir embora e ninguém sabia o que estava fazendo, para onde estava indo. Só pensávamos "If we ever get out of here eu quereria uma sopa, um banho quente e minha cama!". Em certo momento dos 130 minutos que eu e meu irmão (só nós 2, pois nos perdemos dos outros em meio àquela confusão) estávamos na fila, de repente abrem-se alguns cavaletes e grupos de pessoas (que entraram na fila depois de nós e de muitos outros) começaram a encher os ônibus, isso transformou a espera em mais revolta e aos nossos olhos mostrava o despreparo dos seguranças que, em tese, estariam ali para organizar e orientar. Depois de ver crianças, mulheres, idosos e homens sendo desrespeitados naquele ambiente, se sentindo humilhados naquela situação, as lágrimas que antes eram de alegria agora escorriam pelos olhos de todos, mas de tristeza, repletas de um sentimento de impotência, do desespero da violação do nosso direito de ir e vir. Quando finalmente visualizamos a Hope of deliverance e então conseguimos entrar no ônibus para sair dali, apesar de tremendo de frio e "acabados", estávamos felizes, estávamos juntos e queríamos que as coisas boas prevalecessem, mas ainda outro episódio nos aguardava. O ônibus que nos levava parava nos pontos de estacionamento (dessa vez tanto faz o s ou c, porque a chuva era tanta que não víamos nada), quando parou no suposto último ponto perguntamos (todos que estavam no ônibus) para o motorista se iria para o centro ou se teríamos que descer ali, a resposta foi "vai pro centro", confiamos, ficamos dentro do carro. Ao invés de seguir em direção ao túnel (rumo ao centro, que seria o caminho correto) o motorista faz o retorno em direção ao estádio! Todos começaram a gritar e o motorista a rir! Perguntamos novamente se ia pro centro e ele, após ter atravessado a via expressa sul, e voltando, nos diz "se vocês querem ir pro centro agora têm que descer aqui e atravessar a rua pra onde vocês tavam e pegar outro ônibus!". Todos desceram e foram se arriscar atravessando a rua com carros que vinham a 100km por hora. Quando atravessamos, informamos uns policiais, que estavam no local, do ocorrido e eles se puseram a rir, da mesma maneira que o motorista. E a decepção de ter presenciado essa atitude só me fez pensar What's the use of worrying? Vale a pena perguntar por que esse motorista fez isso? Não. Então... when I find myself in times of trouble eu só preciso pensar em words of wisdom e "Let it be"!
Cheguei em casa e, no fim das contas, a aventura foi maior que a esperada. Passei por todas as emoções e sentimentos num dia só. Desde alegria, histeria, nostalgia à tristeza, raiva, decepção... mas a parte das coisas ruins eu quero Let me roll it pra bem longe.
Prefiro lembrar apenas dos momentos lindos do show (todos!), e agora até Because the sky is blue, it makes me cry! Mas não são lágrimas de tristeza, são lágrimas de reflexão. Não condeno ninguém da organização do evento e nem as pessoas que queriam "quebrar tudo", não temos como voltar pra Yesterday...
Me entristece todas as vezes que ouvi moradores falando "isso é Floripa, esperava mais?" Eu sempre respondo mentalmente: LÓGICO QUE SIM! E aos que não são daqui e reclamam do lugar e obtém respostas do tipo "get back to where you once belonged" me entristecem mais ainda. Porque na realidade isso não é resposta, é uma defesa, e eu, como manezinha (ou, florianopolitana, como preferirem) penso que não deveríamos nos defender, porque não somos culpados de nada.
O que se pode fazer é Sing the changes e sempre querer melhorar! Resignação não leva a lugar algum.
Eu acho que o desejo do Paul, quando terminou a passagem dele pela América do sul aqui em Florianópolis, era só: Everybody gonna dance tonight, Everybody gonna feel alright!
Mas, if this ever-changing world in which we live in makes you give in and cry... Say live and let die!
E eu ainda digo outra coisa: a gente supera, esquece, seleciona lembranças, então... Let it be, ixtepô!