sexta-feira, 5 de agosto de 2011

o que te move?

Vou começar falando de dificuldades... afinal das contas, é o que mais falo... 
A primeira dificuldade é a da escrita. Escrever para alguém e ninguém ao mesmo tempo é uma coisa complicada, mas o primeiro passo é querer. Na verdade eu já tô querendo escrever há um bom tempo, mas o começar é sempre pior, não é que eu não tenha o que falar ou que não saiba o que escrever, é o não saber como. A gente sempre quer muitas coisas e têm muitas coisas... Conciliar essas coisas é uma tarefa árdua. Eis que surge a segunda dificuldade: organização. Organização pressupõe um planejamento e planejamento pressupõe tempo, tudo coisa difícil! Agora vem a segunda parte, em que eu me explico... Falar de dificuldades não significa fazer reclamações. Pelo contrário, falar de dificuldades, pra mim, significa falar de méritos, de desafios já vencidos ou que serão vencidos. 
Costumo ter umas neuras quando penso no que eu posso (ou quero) falar, hoje, por exemplo, eu queria falar tanta coisa, mas não pretendo falar nem um terço, mas continuando com o papo dos desafios vencidos... vou falar, então, de mais uma etapa vencida na minha vida... a Graduação! 
Minhas primeiras escrituras daqui (no blog) foram em um contexto em que eu pensava até em trancar a faculdade, li coisas que me desanimavam (sim, sobre a doença de cushing), mas como eu disse, pra mim, falar de dificuldades não significa fazer reclamações (não que eu não faça reclamações, lógico, sou expert nisso) e eu resolvi que eu não absorveria as palavras de tantas coisas que eu li, pessoas que se enclausuraram ou que faziam do problema um drama maior do que realmente é, ou até é um problema gigante mesmo, mas que se deixavam abater e passavam isso pra todos... Não é isso que eu quero. Só de falar disso já me sinto um pouco ridícula porque parece que é meio paradoxal... enfim... Venci essa etapa! Amanhã (no caso, hoje, porque já passa da meia noite) é minha formatura, e de quebra passei no mestrado e na outra semana já começam minhas aulas. Não, eu não consigo ficar parada. E acho que são essas coisas que dão forças, é ter objetivos, é ter pessoas que apoiam teus objetivos... 
Nesse meio tempo de final de graduação, final de estágio, prova de mestrado, preparativos pra formatura,  diretamente proporcional a isso tudo aconteceu aumento da minha pressão, aumento de irritabilidade, dores de cabeça com maior frequência e toda aquela confusão psicológica normal intrínseca à Rafaella... 
O que eu me peguei pensando nesses últimos dias foi "será que eu vou ser ansiosa desse jeito pro resto da vida ou isso  é mais algum sintoma?" aí me veio na cabeça a pergunta de uma campanha publicitária de carros "o que te move?" Acho que o que me move é todo dia acordar e pensar que alguma coisa vai acontecer, não importa o que, alguma coisa SEMPRE vai acontecer... Agora estar satisfeito com as coisas que acontecem depende de planejar essas coisas e estar preparado pra que eventualmente elas deem errado. Não digo que eu esteja preparada pra essas coisas, mas só a consciência disso já me acalma, pelo menos um pouco... Na realidade, às vezes eu acho que eu planejo até demais e lógico que os detalhes nunca saem como a gente quer, mas às vezes essas surpresas são as melhores coisas... 
Quando fiz a prova do mestrado, por exemplo, eu estava apavorada e ao mesmo tempo estava tranquila porque eu pensei "bom, tô me formando agora, eu sei que eu não tenho experiência nenhuma, posso tentar no final do ano de novo". Acho que isso foi o que me ajudou, e eu passei. A pressão de todo mundo dizendo "ah, nem te preocupa que tu passa, super tranquilo, nem tenho dúvidas" era uma coisa alucinante, era um martírio absurdo porque por mais que as pessoas queiram te incentivar a única coisa que te vem à mente é "meudeus, tão dizendo que é fácil, e se eu não passar? vou me sentir a mais imbecil do mundo!" Passei, estou feliz e mais feliz ainda por saber que foi por conhecimentos que eu realmente tenho, por saber que eu tenho capacidade. 
Outra felicidade  no meio das dificuldades foi compartilhar essa felicidade. O estágio de docência é um período tenso, me aguentar com cushing, TPM e todos os hormônios à flor da pele não é tarefa fácil. Em contrapartida eu tive acompanhamento, como sempre. Tive acompanhamento da minha Família, dentro desse "termo" eu incluo todos, todos que me querem bem. Não sei o que seria de mim sem a minha família de parentes, família de amigos, família de profissionais... Tive momentos de alegria tão grande, que ver escrito um nome de um membro dessa família no mural da pós-graduação me fez chorar tanto que eu nem sabia o que fazia. Tive momentos de insanidade tão grande que cheguei a marcar fisicamente um outro membro da família. Tive momentos de apoio à distância. Tive momentos em que coloquei na cabeça certas coisas e mesmo sendo avisada acreditava no contrário, aí depois de um detalhe vi que o aviso era procedente. Tive momentos em que machuquei e mesmo assim fui apoiada.
Não tenho vergonha de dizer que eu não consigo fazer nada sozinha. Acho que o que me move é saber que tem muita gente ao meu redor e essa gente não me é indiferente. 
Sei que todos tem dificuldades, não desmereço as dificuldades dos outros, mas só consigo sentir as minhas. Sei que cada um só consegue saber das suas dificuldades, ninguém faz uma transmutação e consegue saber exatamente o que os outros sentem...
Hoje (ou ontem, whatever), por exemplo, fiquei sabendo de mais um procedimento (da novela da batalha contra o cushing) que terei que passar, com porcentagens não tão agradáveis de sucesso e com detalhes de filme de terror. 
Bom, relatando essa parte... Cheguei na clínica para consulta com um neurocirurgião, já sabendo que eu teria que fazer uma radiocirurgia (porque só a medicação não está dando conta e etc), eis que estou esperando para ser chamada e entra um homem com uma espécie de capacete que parece um tipo de aparelho ortodôntico que cobre a cabeça inteira, preso por parafusos na testa e na nuca, a única imagem que me vêm é a do Hellraiser! Fiquei apavorada, ele senta numa cadeira do meu lado e eu só pensando "e se alguém esbarra? que agonia!" Entrei no consultório, médico se apresenta eu conto minha história, aquela ladainha toda e ele começa a narrar o procedimento... "aí tu vem mais cedo pra colocar o arco na cabeça..." e eu "ah! é? igual do homem ali de fora?" e ele "ah! isso! uma imagem vale mais que mil palavras. então, sabe aquela expressão 'de graça até injeção na testa'? quem passa por esse procedimento sai dizendo 'injeção na testa nunca mais, nem que me pague!" 
E esse comentário da injeção na testa foi falando só sobre a anestesia...anestesia pra colocar os tais parafusos na minha cabeça pra colocar o tal arco estereotaxico... E o detalhe mais legal: todo o procedimendo eu tenho que estar acordada e alerta. Eu tinha reclamado que não queria fazer outro cateterismo e etc, etc, etc... mudou o lugar agora, novos desafios! 
Já nem lembro exatamente como cheguei nesse assunto, mas enfim, a parte das dificuldades... impossível medir níveis de dificuldade. Não sei até que ponto coisas que eu passei podem ser consideradas muito difíceis, mas na época pareceram... é que nem a gente lembrando de uma prova de recuperação de matemática na quinta série do ensino fundamental... na época era a coisa mais temida do mundo, mas depois que passou tanto tempo a gente pensa "mas era tão simples...".
Tive incalculáveis dificuldades esse semestre, mas agora que passou eu penso "acho que tirei de LETRA". Sei que ainda terei outras infinidades de dificuldades, mas, como eu disse, é isso que me move...